Antes de ler, esteja certo de que já viu as partes anteriores!
Parte 1: Um pesadelo acordado
Parte 2: Tomados pela escuridão
Parte 3: Resgate sem refém
Parte 4: A luz da verdade
Parte 5: Um click para a salvação
Parte 6: A despedida de um escritor
Parte 7: Um sinal da imaginação
Episódio 8: O Escritor (Parte 1/3)
Eu precisava sair dali... |
Eu estava do outro lado de uma grande, um portão. Eu me lembrava dessa cena, foi quando fugi do manicômio de Hartman no mundo real. O Barry Imaginário disse que eu precisava encontrar o caminho para fora dali sozinho, mas que isso iria me ajudar. Adentrei os muros destruídos do labirinto e passei a pensar. Se tudo que estava ali saía da minha mente, uma distorção bizarra feita pela escuridão, então eu estava literalmente enfrentando a mim mesmo. Com essa clarificação, me esforcei para conseguir usar a imaginação ao meu favor, e assim consegui fazer surgir luz ali. Bem, na verdade era uma lanterna, mas você entendeu.
Por um instante, achei que tinha perdido toda minha motivação. |
Recolhi algumas armas no labirinto e consegui achar a saída, onde Barry me recebeu dizendo que eu estava mesmo louco. Eu tentei refutar mas, segundo ele, pessoas loucas não sabem que estão loucas, e por isso são loucas. Eu achava isso loucura, mas discutir com um fragmento da minha imaginação era mais ainda. Numa cabana ali perto, aparentemente a fazenda dos irmãos Anderson, havia uma luz forte. Era Zane. Ele havia me alcançado e essa era a minha chance de não mergulhar ainda mais, então precisava aproveitar.
Os fogos de artifício eram meus amigos. |
Entrando lá, Barry avisou para tomar cuidado com as complicações que minha própria imaginação podia criar. Olhei-o curioso, mas ele não me seguia mais. Segundo ele, deixaria Zane e eu falarmos em paz, não queria ser o único imaginário na roda de discussão. Apesar de entender e achar ele irritante, tinha sido bom poder ver um rosto conhecido depois de tudo isso. Assenti e ele desapareceu, me deixando livre para ir de encontro ao homem vestido de mergulhador.
Thomas sempre surgia nos locais mais estranhos. |
O farol.
Poético. |
Episódio 8: O Escritor (Parte 2/3)
As propriedades daquele mundo me surpreendiam cada vez mais. |
Diversas palavras “pedra” flutuavam diante de mim. Quando as iluminei, elas foram se transformando em rochas suspensas no ar, e era o caminho que eu devia seguir. Após quatro delas, iluminar uma palavra fez com que um barco surgisse. Aquilo estava ficando estranho. Agora eu entendia porque Zane tinha tantos poderes ali, parece que sua luz e ordem refletiam a escuridão e o caos de tudo a sua volta. Eu já nem sabia mais se ele era humano ou não.
Estava tudo indo de pernas pro ar. |
Uma nova televisão, um novo discurso insano, uma constatação: eu estava suspenso a incontáveis metros da água. Se eu caísse, atingir a superfície molhada seria como cair contra o concreto. Diante de mim, seguindo o caminho, um colossal tornado de trevas planava, fazendo diversas palavras girar ao seu redor. Era estranho ver todo aquele caos de forma tão pacífica, sem tentar me atacar. Talvez a minha imaginação estivesse ficando mais calma? Ou era apenas Dark Place tentando me fazer sentir em casa?
A ambiguidade da palavra "ponte" era a poesia daquela cena. |
Após cruzar uma árvore caída para o que parecia ser uma ilha inteira suspensa no ar, constatei que a ambientação estava cada vez mais sombria e selvagem, como se nem estivesse tentando mais fingir ser algo normal ou real. Aquela colina tinha várias palavras “rolar” espalhadas, algo que eu não entendi a princípio. Takens começaram a surgir pouco depois e, como aquelas palavras vieram da página que Zane me deu, assumi que iriam ajudar. Iluminei uma delas e um barril surgiu, rolando cenário abaixo até atingir o adversário, explodindo nele. Agora eu me sentia dentro de um jogo que costumava jogar nos fliperamas quando criança, com um gorila jogando barris em um homem de macacão.
Ótimo, agora minha mente me colocou em Silent Hill. |
Tentei evitar ao máximo o confronto, me guiando pelo som, mas nenhum caminho que não fosse o que deixava o som pior parecia me guiar para fora. Não vi escolha senão encarar o colossal Taken com uma serra de frente, jogando o sinalizador em sua direção e atirando até vê-lo desaparecer. Assim consegui continuar seguindo pelos túneis, até encontrar uma nova série de televisores. Estes anunciavam que Alan estava preso em um labirinto de memórias, sem conseguir chegar a lugar algum, atropelado por sua própria imaginação. Uma única porta permitia que eu seguisse em frente. Aquilo não parecia ser boa coisa.
Se eu conseguir sair daqui, vou procurar um psicólogo. |
Então, a varanda da cabana, quebrada, e o lago. Eu sabia como a história seguia, eu devia pular na água. Eu mergulhei, mas foi como passar por um véu, uma cachoeira, pois surgi do outro lado quase sem me molhar. A roda deu prosseguimento e tive de avançar pela réplica da delegacia da xerife Breaker. Se eu tentasse ficar parado, o próprio giro da roda me empurraria, então eu não tinha muita escolha senão seguir em frente. Isso parecia ter um significado.
Incrível como a escuridão simula tão bem algo que nunca viu. |
Próxima parada: inferno. |
Episódio 8: O Escritor (Parte 3/3)
Se você ler "inferno" como "loja de conveniência de um posto de gasolina". |
Segundo ele, a metade de mim que estava na cabana era a que estava cansada, com medo, pronta para aceitar a morte e encontrando conforto naqueles devaneios e sonhos. Eu seria a parte racional, que quer sair dali e era por isso que Zane estava comigo. Mas isso queria dizer que eu não era real, era apenas uma projeção. Isso me lembra do tal Mr. Scratch que Zane me mostrou, que iria conhecer meus amigos em minha ausência. Questionei se ele também era parte de mim, e a resposta foi um hesitante não. Eu estava atordoado, mas meu guardião de luz apenas me deixou para seguir o caminho sozinho.
E as televisões sempre tentando me intimidar. |
O caminho distorcido me guiou até novas plataformas suspensas que acabaram em um corredor estranhamente organizado e limpo. Cruzei a porta no fim dele e lá fiquei diante de um par de cadeiras com uma sombra que lembrava a mim e ao doutor Hartman, como se eu estivesse aceitando seu sermão e suas teorias que tentavam me provar que eu criei tudo aquilo na minha mente. Então, um gravador, supostamente com uma mensagem de Alice. Eu sentia tanta falta de sua voz que não me importei, apenas apertei play.
Ainda que fosse mentira, doeu. Muito. |
Segui até encontrar Zane pelo que parecia ser a última vez. Segundo ele, não poderia chegar mais perto porque a Presença Negra o impediu de se aproximar de onde estava meu outro eu, mas iria dar tudo que poderia me ajudar a chegar lá, recomendando que eu não esquecesse que tudo a minha volta estava a mercê da minha imaginação. Uma última página deu origem a mais palavras, dentre elas “memória” e “ligar”. A primeira era a voz de Alice me lembrando que, embora minha mente pudesse ser pessimista as vezes, era apenas minha mente mentindo para mim, e que ela me amava. Senti os olhos marejando, mas não era momento para isso. Eu tinha de sair dali. Foi aí que iluminei a palavra restante.
Como no sonho, o farol era minha salvação. |
Isso foi o suficiente para que eu chegasse para a torre branca e iluminada. Adentrei, ofegante, e olhei em volta. Era seguro. Eu vi a escadaria de onde a Presença Negra me atacou em meu primeiro sonho e avancei hesitante, como esperando que tudo desse errado. Não ocorreu nada. Comecei a escalar meu caminho em direção à luz e um calor acolhedor foi me tomando. Eu estava protegido ali. No topo, eu nunca estive tão perto daquela luz, e mais uma palavra ainda se manifestava. Quando a iluminei, uma escada se ergueu para um buraco no teto do farol, e eu não sabia para onde ia. Eu só sabia que era onde eu deveria ir.
De volta a onde tudo começou. |
Ele disse que somente conseguiria chegar na cabana se superasse todos meus sonhos e devaneios, e isso incluía ele. Continuei avançando sem me importar, mas ele insistiu que só iria chegar ao meu corpo se passasse por cima dele. Foi nessa hora que um último televisor surgiu, narrando que a escuridão colocaria tudo que eu amava contra mim. Agora tudo estava fazendo sentido, embora eu não quisesse crer. Corri, empunhando a espingarda fortemente e apertando a lanterna. Eu tinha de acabar com isso.
Droga Barry, você não... |
Atirei repetidas vezes contra ele, ignorando suas provocações. Também, era difícil se focar no que qualquer pessoa dizia com Barry não parando de falar mesmo possuído pelas trevas. Derrubei o doutor e surgiram Tor e Odin Anderson, também tomados pela escuridão. Era difícil atirar neles, mas eu não tinha muita escolha. E eles nem foram as últimas figuras conhecidas que foram jogadas contra mim. Barry estava me irritando ao ponto de que eu não tinha mais receio de encher a cara dele de balas.
Não era fácil puxar o gatilho. |
A barreira sombria em volta da cabana cedeu, e já não era sem tempo. As trevas me fizeram erguer minhas armas até contra rostos que eu amava, nada mais podia me impressionar. Entrei na casa e andei até o escritório, onde encontrei meu corpo catatônico, desesperado, implorando pela morte. Aproximei-me e toquei-o, e imediatamente a perspectiva mudou. Eu estava dentro do meu corpo verdadeiro, com a mente clara. Retomar o controle fez com que Zane pudesse se aproximar novamente, e agora eu voltei a ser completo, pleno, sob controle.
Tinha de haver uma forma de sair dali. |
Antes eu estava pronto para aceitar a morte, aceitar desaparecer, mas agora eu sabia que existia um futuro para mim fora dali. Eu precisava sair e mostrar ao mundo que o oceano de escuridão, as muitas Presenças Negras, podiam afrontar de novo. Eu precisava ver Barry e Alice novamente. É por isso que eu comecei a escrever de novo, uma continuação para o livro Departure. Este se chamaria Return, este seria o meu retorno.
Agora eu sei quem sou. Meu nome é Alan Wake, e eu sou um escritor.
Isso conclui a última parte do nosso Blast Log de Alan Wake, terminando o último DLC do jogo, “The Writer”. Este capítulo final mostra que a trama de Alan pode não ter terminado, porque o seu combate com a escuridão ainda não teve um fim. Será que ele conseguirá emergir das trevas mais uma vez para o mundo real? Ou seu destino é se tornar algo como Thomas Zane? E o que é Mr. Scratch? Acho que isso tudo é uma história para ser contada outro dia…
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Diego Migueis
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