Discussão

Valeu a pena o Xbox não ter mais exclusivos?

Entenda a nova estratégia da Microsoft e se ela tem se fato funcionado ou não.



A Microsoft na conferência da E3 de 2017 acabou assustando os fãs com os dizeres “Exclusivo Xbox One e Windows 10” abaixo de cada novo trailer ou gameplay dos jogos apresentados. A pergunta recorrente era “se todos esses games também estarão disponíveis para PC, qual seria a vantagem então em ter console da família Xbox?”. E, apesar dos constantes questionamentos, a gigante americana seguiu com sua política, visto que Sea of Thieves e State of Decay 2, uma das duas franquias aguardadas para este ano, saíram para Xbox e PC com crossplay e pelo programa Xbox Play Anywhere.


Diante desse cenário, nos perguntamos se a nova estratégia da empresa é de fato benéfica para seus usuários e até mesmo para o futuro da marca Xbox. Para tanto, é preciso que antes se fale sobre o impacto das vendas dos consoles.

Depois da mudança, quanto vendeu o Xbox?


É preciso entendermos que, em primeiro lugar, ao se tomar uma ação de mercado como foi o caso da Microsoft, o principal termômetro são as vendas. Pode-se dizer que o grande questionamento vieram por parte dos fãs hardcore do Xbox e isso é compreensível: na batalha dos consoles com a Sony (e recentemente com a Nintendo retornando ao páreo), a briga sempre foi ditada pelos chamados exclusivos. A Sony com seu Uncharted, Last of Us e God of War; a Nintendo com Mario, Pokémon e Zelda; e a Microsoft com Halo, Forza e Gears of War.

O que valia, portanto, era a presença de grandes franquias (com orçamentos exorbitantes) e uma experiência única que somente quem tivesse um Xbox, por exemplo, poderia ter de jogar Halo. A quebra dessa publicação única para os videogames traz uma certa frustração, mas e com relação às vendas? A Microsoft saiu perdendo financeiramente após este anúncio? 

A resposta é não. E digamos que o efeito foi completamente contrário à queda nas vendas dos consoles. Vamos lá!

Como a Microsoft não costuma divulgar os dados oficiais das vendas do Xbox, tive de recorrer a fontes alternativas que, embora não possam ser tão precisas, aproximam-se em termos de valores a partir de metodologias de pesquisas interessantes. É o caso da Vgchartz, que demonstrou um crescimento nas vendas dos consoles da Microsoft fazendo com que ele liderasse no mês de dezembro.

É claro que essas vendas podem ter sido impulsionadas pelo lançamento do monstruoso Xbox One X, mas isso é mais uma prova de que os consumidores, ao menos não aqueles hardcore, não estão achando de todo ruim essa ideia de fim dos lançamentos exclusivos de jogos para o Xbox One.



Sendo assim, do ponto de vista financeiro, a estratégia parece-nos acertada, levando a venda de Xbox às incríveis 36 milhões de unidades. Ainda está longe da concorrência, mas demonstra um fôlego, visto que passou a dominar a lista de vendas em dezembro e no início deste ano. Agora, precisamos entender os fatores motivacionais dessa mudança de política, por assim dizer.

A Microsoft e o Windows 10


Pode-se dizer que a Microsoft sempre foi uma empresa de tecnologia e seu principal produto, desde o seu surgimento, é o Windows. No auge dos computadores, a empresa de Bill Gates liderou com folga o mercado e arrisco a dizer que ainda lidera quando falamos em notebooks e computadores de mesa.



A Apple, apesar de ser uma forte concorrente com o seu Macbook, sempre focou em um público específico, o que fez com que a Microsoft disparasse em primeiro lugar nessa corrida. Entretanto, com os smartphones, a Apple garantiu seu espaço e o Google, com seu Android, também. As tentativas da Microsoft foram diversas e isso inclui a compra da Nokia há alguns anos atrás e a tentativa com o Lumia. A estratégia foi um fracasso.

Afinal, o que o mercado de smartphones tem a ver com a nova estratégia da Microsoft nos consoles? Arrisco a dizer que foi esse o grande problema que o novo CEO da empresa, Satya Nadella, percebeu. Os produtos estavam desconectados, isolados e era preciso aproximá-los. E como fazer isso? A resposta viria com o Windows 10. Como o grande produto sempre foi o sistema operacional, a Microsoft resolveu mantê-lo no centro e fazer com que todos os outros produtos girassem em torno dele.

O Xbox rodaria o Windows 10, assim como PC, celulares, tablets, HoloLens e vários outros produtos que a empresa pretende lançar. No final das contas, o importante é você utilizar o Windows 10 seja para trabalhar, jogar ou para afazeres do dia a dia.

O Xbox, nesta visão, seria uma espécie de computador gamer produzido pela Microsoft, mas você também pode jogar os jogos da empresa em outra máquina com Windows 10 e, melhor ainda, você pode, sem problema algum, jogar com seus amigos que tem um PC e você com o seu Xbox One X.

Essa proposta ainda faz a Microsoft resolver um outro problema: muito se questionou sobre uma versão portátil dos consoles Xbox, assim como a Nintendo e a Sony. Entretanto, com o programa Xbox Play Anywhere, com apenas uma compra, você pode jogar em todos os dispositivos com Windows 10.

Ora, eu posso começar jogando em casa no meu console e continuar no meu tablet a caminho do serviço e, no intervalo, jogar no desktop da empresa. Por que um portátil, sendo que basta um Windows 10 acessível em qualquer um desses lugares? Claro, o problema ainda é a potência das máquinas, algo que a empresa de Bill Gates parece estar tentando resolver com a utilização da nuvem.

O Xbox Game Pass e o futuro


Como todos já devem saber, o Xbox Game Pass é o serviço de assinaturas que proporciona aos usuários do Xbox o acesso a uma enorme variedade de jogos. A biblioteca é atualizada periodicamente e, recentemente, exclusivos como Sea of Thieves e State of Decay 2 foram adicionados ao acervo já no lançamento.



O serviço de jogos visto por muitos como o “netflix dos jogos” parece ser uma grande aposta da Microsoft e também dá algumas pistas sobre o caminho a ser seguido. Talvez, o novo foco seja o dos Streamings, e o Xbox, neste caso, funcionaria como um serviço propriamente dito, presente em diversos produtos com Windows 10, e não mais apenas como um console. Isso justificaria o fim da exclusividade, pois o Xbox Game Pass seria algo muito mais amplo do que o habitual.

E quanto a nós, jogadores?


Como portador de um Xbox One posso dizer, pessoalmente, que o Xbox abrir seu acervo para usuários do Windows 10 não foi algo ruim. Amigos e familiares que estão habituados com o PC agora se tornaram parceiros de jogatina. Isso fez com que eu saísse do isolamento, pois poucos conhecidos possuem um Xbox One.



Eu também ouso dizer que para mercados emergentes como o Brasil essa opção é bem interessante, afinal, conforme pesquisas recentes, a oitava geração de consoles está muito pouco presente no Brasil. Uma prova disso é o Xbox 360 ainda ser o videogame mais utilizado pelos brasileiros. Sendo assim, os usuários do computador podendo jogar com donos de um Xbox One como eu, configura-se em uma excelente ideia.

Quanto à aposta feita pela Microsoft, em princípio, os resultados são bem positivos visto o aumento das vendas. Entretanto, é preciso dar tempo e ver se o crescimento se mantém a longo prazo e se isso resultará em uma nova visão no que diz respeito às novas gerações.

E você? O que achou dessa nova política que decretou o fim, ao menos a priori, dos exclusivos no Xbox?

Revisão: Júlio César


é goiano e já foi astro do rock (no Guitar Hero), líder de uma grande civilização (no Age of Empires) e bem casado (no The Sims). Ele diz que está escrevendo um livro de ficção científica numa tentativa de fazer novos amigos assim. Você pode tentar convencê-lo de desistir dessa ideia absurda no Twitter ou Facebook dele.

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