Antes de ler, esteja certo de que já viu as partes anteriores!
Parte 1: Um pesadelo acordado
Parte 2: Tomados pela escuridão
Episódio 3: Compensação (Parte 1/3)
Era irônico estar com meu destino nas mãos de quem me encheu de dor de cabeça. |
Meu celular tocou. Assim que atendi, a xerife Sarah Breaker estava um pouco tensa. Ela me disse que alguém do FBI estava na delegacia, agente Nightingale, e ele queria muito me ver. Ótimo. Chegamos no acampamento de trailers fora da cidade, onde Rose morava, mas teríamos de ser rápidos. Minha experiência diz que não é bom deixar autoridades esperando demais. Para acelerar o papo, pedi para Barry me resumir o que ele havia descoberto de Bright Falls em sua pesquisa matutina.
Por algum motivo, não confiava naquele que nos guiava. |
Essas revelações me faziam doer a cabeça enquanto andava até o trailer de Rose. Eu lembro de ter visto livros de Thomas Zane quando fui na ilha. No meu pesadelo havia um cartaz com os dizeres “Tom, o Poeta”, com uma pessoa em roupas de mergulho. Aquela voz, aquela luz saiu daquele cartaz. Seria Zane tentando me avisar de algo antes mesmo de eu chegar na cidade? Me alertando da escuridão que eu poderia enfrentar? Pensar nisso estava me deixando enjoado.
Os escritores sempre foram dependentes da loucura, mas acho que nunca do jeito que estou sendo. |
Chegamos na casa. Rose atendeu a porta, mas sua voz parecia estranha, mecânica. Entramos e nos sentamos, mas aquele ambiente estava me deixando tenso. Fui grosso, de certa forma, ao clamar por meus manuscritos que ela afirmou possuir sem nem agradecer pela hospitalidade, mas a resposta me deixou ainda mais irritado: “Eu sei o que você precisa, de uma musa para te inspirar”. Eu me levantei irado, mas senti o chão fugindo dos meus pés. Barry apagou, e eu senti que estava indo em seguida. Havia alguma coisa no café que ela nos ofereceu, e eu só percebi tarde demais.
Eu não sabia se era um pesadelo vívido... |
“De volta ao trabalho, garoto.”
...ou se estava vivendo um pesadelo. |
Episódio 3: Compensação (Parte 2/3)
Eu me pergunto por que eu gravaria esses vídeos. Seria uma forma de me comunicar com alguém? Talvez comigo mesmo? |
Falando em perder tempo, eu apaguei até o anoitecer. Agora eu tinha menos de doze horas até encontrar com o sequestrador e não tinha nada em mãos. Ironicamente, foi só eu dizer isso e encontrei algumas páginas no chão em meu caminho até o carro. Uma afirmava que o homem que nos guiou até Rose havia ligado para a xerife por suspeitar de Barry e de mim, enquanto a outra falava sobre a escuridão que tomou a forma de Barbara. Estremeci. Droga, o agente do FBI! Eu o deixei esperando um dia todo, isso era um péssimo começo. Quando estava chegando no carro, vi as consequências do meu atraso.
Já me ameaçaram antes, mas nunca com essa intensidade. |
Agora eu estava correndo em meio a escuridão da floresta, sem minha lanterna, sem meu revólver. Não somente a escuridão me atormentava, mas a polícia também estava em meu encalço. O pior é que deixei Barry para trás, e ele provavelmente seria preso. O remorso pesava mais que o cansaço de minhas pernas, correndo pelo terreno desnivelado sem parar, mas eu não podia me dar ao luxo de descansar. Cada segundo me afastava mais de Alice. Contudo, conforme o tempo passava, percebia que não era só a luz que me ajudava, mas a escuridão também. Ou quase.
A polícia podia me prender, mas a escuridão podia me matar. |
Nem mesmo helicópteros conseguiam enfrentar as trevas, que agora começavam a se manifestar não somente com pessoas, mas com objetos, conforme vi em um portão que atacava quem se aproximasse. Vi ao longe a torre de rádio de Pat Maine, e torci para que ele fosse decente e pudesse me ajudar. Isso dependia muito se ele sabia ou não que a polícia estava atrás de mim. Em meu caminho, encontrei granadas de luz usadas pela polícia, feitas para atordoar. Aquilo seria o ideal para enfrentar as trevas, mas devia gastá-las com cautela.
Apesar que Nightingale parecia interessado em me matar. |
Enquanto eu abria caminho entre os Takens usando tudo o que tinha, cada vez de forma mais fluida e simples (acho que estou me acostumando com isso), meu telefone tocou. Atendi e era Alice, pedindo por ajuda. Meu coração apertou duas vezes, uma por saber que ela precisava de mim e eu não sabia como ajudar, outra por estranhar o tom de voz dela, quase tão mecânico quanto o de Rose. A ligação caiu e me deparei com outra página, essa narrando como encontrei objetos que se ergueram e foram em minha direção sem explicação. Aquilo parecia inconcebível de se acontecer, mas estava aprendendo a lidar com a lógica daquele mundo que mergulhei.
A ligação me torturava. Não estava mais aguentando aquela situação. |
Corri para poupar baterias e munição, pulando uma grade nos arredores, mas não estava pronto para o que iria encontrar. Não contente de possuir pessoas e objetos, as trevas tomaram um trator. Um. Maldito. Trator. Estremeci só de ver aquelas toneladas de metal vindo em minha direção, protegido por uma lanterna. Aquilo era absurdo até para os livros mais insanos de King, quiçá da própria realidade. Eu não vi muita escolha senão correr e concentrar a luz nele pelo que pareceu uma eternidade até que desaparecesse. Cai no chão, ofegante. Aquilo era demais pra mim.
Caminhei mais um pouco e encontrei um dos carros abandonados por aqueles que foram possuídos e se tornaram Takens. Peguei o carro e ajeitei o retrovisor, vendo a luz surgindo no horizonte. O sol estava nascendo e eu devia ter só mais algumas horas até encontrar-me com o sequestrador. Faltava pouco, logo eu reaveria minha Alice.
O raiar do sol era uma bênção para minha busca. Enfim um pouco de paz. |
Episódio 3: Compensação (Parte 3/3)
Sempre escrevi mais no período noturno. Por isso que eu nunca imaginei que, um dia, iria querer tanto que o dia durasse mais do que a noite. |
Eu cheguei na mina e esperei. E esperei. E esperei. Horas se passavam, eu imaginava o que faria com o sequestrador se pudesse, o que ele poderia ter feito com minha esposa. A noite estava caindo e nada dele. Estava irado, desesperado, mas o vibrar do meu telefone irrompeu o silêncio. Tomei o aparelho e atendi, ouvindo a voz do sequestrador com novas instruções: eu deveria encontrá-lo em Mirror’s Peak, o topo de uma montanha ao norte de onde eu estava. Eu iria até lá, e iria matá-lo. Ele era o primeiro humano que eu sentia confiança para matar, mesmo não tomado pela escuridão.
Mas a noite caiu, e a luta continuou. |
Eu mal saí da mina e os ventos sombrios começaram a soprar. Era como um suspiro desesperançoso do próprio planeta, descrente de que a terra veria luz novamente. Logo os arautos dessa brisa demoníaca começaram a se levantar, e mais uma vez era eu contra os Takens. Meu alvo não era nenhum deles, mas seriam ótimos para descarregar minha raiva. Algumas pessoas preferem bolinhas para apertar. Eu aperto o gatilho.
Agora a escuridão podia até derrubar árvores e erguer carros. Nenhum lugar era seguro. |
Os Takens não saíam do meu encalço, me forçando a fugir e atirar. Eu já perdi a conta de quantos eu já matei, o que me faz pensar que a cidade pode estar já com um grande desfalque em seus habitantes. Isso sem contar com os objetos que desapareciam conforme eu focava a luz. Barris, vigas, carros. A escuridão parecia estar avançando na mesma direção que eu. Congelei por um momento. Estaria a Presença Negra atrás de Alice também? O mero pensamento me fez apertar o passo e correr ainda mais - até mais do que eu achava que aguentaria. Sou um escritor, não um maratonista.
Novamente, os vídeos. |
Uma nova gravação minha, falando sozinho. Eu falava para a câmera que consegui dar uma pausa na minha escrita para ler um pouco o material de Thomas Zane, e disse que o homem era um verdadeiro poeta. Suas histórias místicas narravam sobre reinos de luz e escuridão, uma magia antiga de um lago, terras de deuses e demônios, com criaturas sombrias que esperavam a primeira oportunidade para possuir a carne dos homens como disfarce. Não pude deixar de traçar um paralelo com a minha situação; teriam os Takens nascido da obra de Zane, e foram trazidos de volta pela minha? Parecia que eu tinha mais em comum com o escritor do que podia imaginar.
Por que essas visões se repetiam? Um sinal ou uma tortura? |
Saí da caverna e achei mais uma página, que não fez muito sentido. Um homem, Tor Anderson, estava agindo como a figura mitológica Thor, deus nórdico do trovão, erguendo seu martelo e o chamando de Mjölnir. Com força, ele atingiu a cabeça de uma enfermeira que tentava cuidar dele, e o desfecho não é citado. Tor apenas diz que “vai entrar em uma turnê de retorno”. Isso parecia bizarro demais para se encaixar com o resto, o que fez com que me perguntasse se aquela página fazia parte do meu livro.
Em outros tempos, ser encurralado assim me deixaria desesperado. Hoje não. |
Enfim nos arredores de Mirror’s Peak, onde havia uma casa abandonada. Entrei e minha lanterna fez a tinta fotoluminescente reluzir nas paredes, exibindo diversas vezes o nome “Tom” e um coração com os dizeres “B.J. + T.Z.”, além da frase “você fala comigo pela televisão”. Seria aquela uma mensagem da verdadeira Barbara? Impossível, estava morta. Subi as escadarias procurando por mais dizeres como estes, mas o chão cedeu e eu caí no porão, me vendo cercado de Takens. Uma emboscada mortal, mas eu não pretendia me entregar.
Totalmente cercado em território inimigo. Parecia uma mistura de Rambo, 007 e um conto de Stephen King. |
Não consegui pensar muito pois os gritos do sequestrador irromperam o silêncio, desesperado. Ele gritava com uma mulher que, pelo visto, se aproximava e o ameaçava. Eu ouvi ele dizer “nós não temos a esposa dele, ela deve estar afogada, só dissemos o que nos daria o que queríamos”, e isso me fez acelerar carregado de ira. Encontrei-o de joelhos, apontei minha arma e a lanterna, mas ele não reagia. O que ele havia visto? Descobri instantes depois, quando a mulher de preto se materializou diante de mim e desapareceu em seguida, me fazendo recuar horrorizado.
Sem esperança. Sem forças. Sem luz. |
A última coisa que eu vi foi uma mão entrando na água.
Isso conclui a terceira parte de nosso Blast Log de Alan Wake. Qual terá sido o desfecho do encontro direto de Wake e a escuridão? Se os sequestradores não tinham Alice, então com quem ela está? Será que a água que começou tudo isso também irá acabar? Isso nós teremos de descobrir na próxima semana, e torçamos para que a luz não deixe a alma do escritor nas sombras.
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole
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