Um jogo de reviravoltas
Lançado em novembro de 2002, Metal Gear Solid 2: Substance é, na verdade, uma versão melhorada de Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty, lançado um ano antes, exclusivamente para o PlayStation 2. Substance trouxe todo o conteúdo original e incluiu alguns extras que são, de certa forma, substanciais para os fãs da série.
O grande diferencial de Substance em relação aos demais jogos do gênero stealth do Xbox, é o modelo de narrativa, semelhante à do cinema. Assim como outros jogos de Hideo Kojima, como Snatcher e Metal Gear Solid, Substance é repleto de cutscenes e diálogos demorados. Tudo isso acabou transformando o gameplay em uma atividade secundária em um jogo em que você mais assistia do que jogava.
Infelizmente, isso acabou, de certa forma, ferindo o próprio game. O sistema de câmeras, por exemplo, feito para tirar proveito desse esquema hollywoodiano, acaba, na maior parte do tempo, prejudicando a visão do jogador, e tornando o jogo bastante cansativo. Além disso, a história é repleta de absurdos do início ao fim, perdendo, em muitos pontos, para tramas consistentes como a de Splinter Cell, título de espionagem da Ubisoft. Apesar de também ser do gênero espionagem, Metal Gear Solid 2 não preza pelo realismo, criando situações questionáveis e decepcionantes. Tudo isso foi criado visando construir uma trama cheia de reviravoltas e situações inovadoras.
Ângulos ruins transformam Metal Gear Solid 2 em uma experiência cinematográfica. |
Por um lado, devemos afirmar que, sim, Kojima conseguiu criar um jogo único. Em diversos momentos o jogo conversa diretamente com o jogador, em recursos tão ou mais interessantes que os anteriormente criados pelo designer – quem não lembra do Psycho Mantis lendo os dados de seu Memory Card no PlayStation? Por outro, o jogo acabou servindo para testar a paciência dos donos de Xbox, principalmente graças à suas pisadas na bola.
E se falamos de cinema, é bom ter em mente que Metal Gear Solid 2 era, na época, uma das melhores experiências cinematográficas dos videogames, com direito a plot twits e tudo mais. A maior reviravolta da trama já ocorre nas primeiras horas de jogo. O protagonista desse episódio da franquia não é o popular Solid Snake, que atuou nos três primeiros games, e sim Raiden (o mesmo de Metal Gear Rising: Revengeance), um novato completamente diferente em todos os aspectos. Os jogadores da época não esconderam a decepção ao controlarem um personagem sentimental e andrógino, principalmente porque toda a publicidade feita antes do lançamento da primeira versão no PlayStation 2 dava indícios de que Snake seria o personagem principal, e em todos os trailers era ele quem aparecia dando cabo dos capangas.
O polêmico Raiden. |
Os donos de Xbox, por sua vez, não tiveram direito a essa surpresa, já que o assunto havia sido debatido a esmo nos anos anteriores ao lançamento da versão Substance. Entretanto, para eles ainda havia sido reservadas algumas surpresas para o decorrer do percurso, surpresas essas que fizeram a compra da "versão melhorada" valer muito a pena.
Os filhos da liberdade
O enredo de Metal Gear Solid 2: Substance é bem complexo e possui uma importância enorme para o universo da série.
Todo o jogo gira em torno de conspirações e tudo tem início quando Solid Snake e Otacon, agora trabalhando para uma organização não-governamental, decidem investigar a suposta produção de um novo Metal Gear. Para a surpresa de todos, não apenas existe um novo Metal Gear, como um velho conhecido, que supostamente havia morrido, está de volta, e no comando. Numa sequência de tirar o fôlego, Snake aparentemente morre e todas essas informações vão junto com ele.
Os filhos da liberdade? |
Alguns anos depois, o novato Raiden recebe uma grande missão em sua estréia na FOXHOUND. Ele deve se infiltrar em uma base marítima e resgatar ninguém menos que o presidente dos Estados Unidos, que foi sequestrado por um grupo terrorista que autointitulava-se Sons of Liberty.
Apesar de bem denso, esse resumo não conta nem dez porcento de toda a trama de Metal Gear Solid 2. As inúmeras reviravoltas – que você deve conhecer, caso o tenha jogado, ou que deve conhecer jogando, caso não o tenha feito – deram um valor enorme ao jogo. Era simplesmente impossível deduzir o que viria a seguir.
Raiden, are you alright? Raaaaaaaiden!!!
Além de ter a dura missão de substituir o carismático Solid Snake, Raiden ainda enfrentou a fúria dos jogadores que não gostaram do seu estilo de jogo. O último chefe, por exemplo, foi muito criticado graças a esse estilo peculiar, que era inédito na série.
Mas nem tudo foram críticas. Em Sons of Liberty tomamos conhecimento da história de Raiden, que na verdade chama-se Jack, e acabamos também tendo uma noção geral de todo o universo da série. O que faltou de carisma para o protagonista, sobrou em mistérios para a resolução do grandioso quebra-cabeças da franquia. E, sem dúvida, o jeitão mais "humano" de Raiden acabou conquistando alguns jogadores. Tanto é verdade, que ele protagonizará outro jogo em 2013.
Snake e companhia no Xbox
Mesmo com algumas pisadas na bola, Metal Gear Solid 2: Substance foi uma ótima maneira de estrear a clássica série da Konami no Xbox. Além do visual acima da média, o jogo trouxe um conjunto técnico invejável, graças à utilização de diversos recursos do console, como o Dynamic Lightning.
Metal Gear Solid 2 também apresentou diversos novos conceitos que seriam mais tarde incorporados por toda a série. Os personagens controláveis agora tinham à disposição uma artilharia mais pesada, além de novos movimentos, como cobertura. Além disso, o conteúdo extra deu motivos de sobra para que os que experimentaram o título no PlayStation 2 dessem uma chance para a versão do Xbox.
O ambiente se tornou manipulável em MGS2. |
Entre os extras mais interessantes, estava a possibilidade de jogar uma mini campanha de Solid Snake, que mostrava o que o agente esteve fazendo durante a campanha de Raiden.
Para os fãs de colecionáveis, Substance trouxe mais Dog Tags, os itens que "caiam" quando os inimigos eram derrotados, isso sem falar na infinidade de easter eggs. E para os fãs de desafios, a inclusão dos modos Boss Survival e Casting Theater em todas as regiões (esses modos não estavam disponíveis na versão americana de Sons of Liberty), além de centenas novas missões, que não faziam parte do jogo principal, deram um gás extra ao título.
Por fim, Substance serviu como a porta de entrada do maravilhoso universo de Hideo Kojima nos consoles que não eram produzidos pela nipônica Sony. Um grande presente de natal para os fãs do Xbox.
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
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