Blast from the Past

Blast Replay: Jetpac (1983)

O primeiro jogo da Rare — criado antes mesmo de ela se chamar assim — é uma joia perdida no tempo e a pedra fundamental da empresa que todos amamos.

Antes da Rare existir, havia uma pequena desenvolvedora de jogos britânica chamada Ultimate Play The Game. Fundada em 1982, ela começou com apenas dois integrantes, os irmãos Tim e Chris Stamper, dois veteranos com experiência em jogos de arcades.


A Ultimate desenvolvia jogos para computadores pessoais, mas não os PCs que estamos acostumados hoje em dia. Em 1983 o padrão IBM PC ainda não tinha se instaurado, havendo milhares de arquiteturas de computadores rivais brigando pelo mercado — BBC Micro, Commodore VIC-20, Apple II, TI-99/4, dentre (muitas) outras.

No Reino Unido, entretanto, nenhum computador era mais popular que o ZX Spectrum. Com 5 milhões de unidades vendidas, mais de 80 revistas especializadas (incluindo Sinclair User e Your Sinclair) e recebendo mais de 24.000 programas em seu tempo de vida (a maioria deles sendo jogos), o computador da Sinclair era no Reino Unido o que o Master System foi no Brasil. Não é difícil entender por que o primeiro game da Ultimate foi desenvolvido para o ZX Spectrum.
Este jogo da Rare, antes de se chamar Rare, para um PC, antes deles serem os PCs que conhecemos, chamava-se Jetpac, lançado em 1983.

Perdido no espaço

Em Jetpac o jogador controla um astronauta perdido em algum pequeno planetoide no espaço distante da Terra. Seu objetivo é reconstruir sua espaçonave, reabastecê-la e fugir. Para se defender, o explorador espacial possui uma arma a laser e a titular mochila a jato.

A aventura do cosmonauta não tem final feliz. Sua nave parece ter se distanciado demais da Terra. Ao fugir de um planetoide, o veículo logo pousa em outro (incrivelmente idêntico, também com apenas três plataformas), sendo necessário reabastecê-lo de novo. Novos alienígenas fazem com que o desafio fique um pouco diferente — e mais difícil a cada novo planetoide alcançado. É um ciclo eterno, sendo interrompido apenas com a morte de nosso intrépido viajante.

Isso é reflexo da época em que o jogo foi feito. Em 1983 a Nintendo ainda não tinha chegado ao mercado ocidental e dominado o mundo. A grande referência dos games eram os arcades. Jetpac seguia os padrões dos líderes da indústria, criando uma experiência curta, cujo objetivo era somente conseguir a maior pontuação possível.

Entretanto, estamos falando de um jogo da Rare — mesmo que na época ela ainda não usasse esse nome. Seus jogos sempre fora aventuras acessíveis, prazerosas e capazes de divertir toda a família. Mesmo tendo os arcades como guia, Jetpac era um game para o ambiente caseiro, lançado num computador pessoal. Certos elementos comuns em jogos da época, como a dificuldade injusta, regras arbitrárias e longevidade artificial, não estavam presentes aqui.

Outra característica da Rare que já estava presente na Ultimate Play The Game e era visível desde o início era seu completo domínio da plataforma em que desenvolvia. O ZX Spectrum não era exatamente um super computador. Muito pelo contrário, boa parte de seu sucesso veio pelo fato de ser uma máquina barata, ainda que mais fraca que a concorrência. Mesmo com recursos limitados, o resultado é esteticamente agradável e surpreendeu todos em sua época.

Com tanto empenho em todos os aspectos, o jogo merecidamente ganhou o prêmio de Game of the Year do Golden Joystick Award, o primeiro de muitos prêmios daquela que viria a ser a Rare.

Reabastecido

Jetpac ganhou duas sequências: Lunar Jetman (PC), lançado também em 1983, e Solar Jetman (NES), 1990. Além disso, o jogo original está incluso em Donkey Kong 64 (N64) e recebeu um remake em 2007 chamado Jetpac Refuelled (X360).

Mesmo não virando uma grande franquia ou recebendo várias referências e cameos em jogos modernos, a influência de Jetpac é inegável. Seu maior legado é um só: a Rare. Vendendo mais de 300.000 cópias, seu sucesso permitiu que a Ultimate Play The Game continuasse a desenvolver jogos e virasse a empresa que todos amamos e conhecemos.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Nivia Costa

é analista de sistemas web por profissão, gamer por vocação. Tem grande interesse em game e level design, o que o levou a escrever para o Xbox Blast. Em seu Facebook e Twitter também fala de outras coisas, como HQs, música e literatura.

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