Após missões épicas no Nintendo 64, a espiã Joana Dark não protagonizou mais novas aventuras na geração que surgiu, muito menos na seguinte. Contudo, com a chegada dos consoles em alta definição, a série reapareceu na linha de frente do Xbox 360 em seu lançamento, com o jogo Perfect Dark Zero. Vamos relembrar como foi que uma jovem rebelde se tornou uma das melhores agentes da ficção científica gamer?
Missão Zero
Perfect Dark Zero foi lançado em 22 novembro de 2005, pela lendária Rareware, como um dos exclusivos de peso no lançamento do Xbox 360. Nele, em vez de seguirmos os acontecimentos do primeiro jogo, somos apresentados a uma Joana Dark de apenas 20 anos, no ano de 2020, ou seja, bem antes dos acontecimentos do jogo anterior.
Como o próprio título já sugere, Perfect Dark Zero antecede as missões do Nintendo 64, mostrando a fase de treinamento de Joana ao lado do seu pai, Jack Dark, e de outros novos e velhos amigos, como Carrington, Jonathan, Elvis e o Dr. Carol.
Até aí temos tudo que qualquer fã queria, mas, por suceder um dos melhores FPS já feitos para um console de mesa, a expectativa por essa nova aventura era enorme, gerando comparações desleais e injustas por parte da crítica especializada e dos fãs mais fervorosos.
Minha heroína
Perfect Dark do Nintendo 64 é um dos meus jogos favoritos, assim como é o de muitos que tiveram a oportunidade de jogá-lo. Ainda lembro como fiquei impressionado, na época que joguei, com o capricho do jogo. Lindos cenários, jogabilidade refinada e uma trama cativante, digna das melhores ficções científicas que conhecia.
Era realmente um jogo marcante, com personagens carismáticos e uma execução técnica incrível. Mas, infelizmente, nem naquela geração, muito menos na seguinte, Joana Dark retornou. Joguei vários outros títulos do gênero, mas a saudade de Perfect Dark só aumentava.
Como demorei bastante até comprar um Xbox 360, foi somente no início de 2015, quase 15 anos desde o primeiro encontro, que consegui rever minha heroína favorita — sinto muito Samus. E para minha surpresa, enquanto buscava informações sobre o jogo, deparei-me com uma série de comentários ruins sobre Zero.
Não conseguia entender como aquele jogo tão aguardado poderia gerar comentários tão negativos, a maioria deles, por sinal, comparando-o com o jogo original. Coisas do tipo: “Não chega aos pés do primeiro”, ou ainda, “Nem precisavam ter feito, pois o original já bastava”. Mas será que era tão ruim assim?
Charme próprio
Sem me deixar abalar pelo pessimismo da crítica, resolvi me despir das expetativas exageradas e aproveitar a experiência, fugindo dos comparativos e focando na fantasia que a Rare preparou para seus antigos e futuros seguidores.
Basta o primeiro contato com o vídeo inicial para se deixar levar pela atmosfera da série. Com uma introdução digna das melhores incursões de James Bond nas telonas, surge uma esbelta Joana Dark cercada por modernidade e beleza, digna da nova geração que surgia. Passado o entusiasmo inicial, era hora de reencontrar uma velha amiga.
À primeira vista, o jogo é um típico FPS com controles tradicionais e o sistema de regeneração de vida, comum naqueles dias. Mas, além dessas características aprimoradas, o jogo trazia acréscimos interessantes, como novos dispositivos e movimentos.
Entre as novidades, a que mais me chamou a atenção foram os novos aparatos tecnológicos, como um drone capaz de alcançar áreas remotas, e as novas habilidades de se esconder/proteger e saltar/desviar.
Desta vez, Joana era capaz de se esconder atrás de caixas, esquinas e em vários outros objetos, ficando na espreita para surpreender os inimigos. Foi uma forma bem primária do que vimos depois em Gears of War, mas que funciona bem. Além disso, era possível rolar para desviar de ataques e passar por obstáculos. Tudo isso contribuiu para uma experiência bem convincente e divertida.
Esses novos movimentos também serviram para o jogador se aproximar ainda mais da protagonista, pois o jogo assumia visão em terceira pessoa, colocando Joana à vista. Isso, sem dúvida, criava uma atmosfera mais imersiva e cativante.
Outa característica marcante do jogo é o vasto arsenal à disposição da espiã. É uma variedade surpreendente, alternando entre pistolas, rifles, metralhadoras e inusitadas criações originais. A qualidade das texturas também impressionava na época, deixando novas e velhas armas conhecidas ainda mais reais.
Um pouco da velha alma
Não posso esquecer dos visuais do jogo. Mesmo se tratando de um título do início daquela geração, Perfect Dark Zero já possuía uma beleza gráfica incrível, com texturas, modelagens, efeitos de luz e sombra, profundidade e escala que encantavam. Até hoje acho o jogo bastante bonito, principalmente por ainda manter traços e alguns modelos que remetem ao jogo original do Nintendo 64.
Mas, assim como a maioria dos jogadores que jogaram Zero, foi impossível se manter longe de comparações. Contudo, no meu caso, isso não foi ruim. Em vários momentos, estava me sentindo, mais uma vez, de volta àquela obra-prima dos videogames. Os personagens, os ambientes, o trabalho de arte. Quase tudo remete ao original. Porém, nem tudo era mágico.
Senti bastante falta de enfrentar alienígenas, como no primeiro, e em poucos momentos fui fisgado por algo da trama. Todavia, se pudesse destacar os melhores momentos do jogo, não pensaria muito em realçar o ótimo multiplayer cooperativo e competitivo e a trilha sonora.
As opções online de Perfect Dark Zero foram, por muito tempo, uma das melhores do Xbox 360, batendo de frente com o insuperável Halo 2. São vários modos de jogo e opções para você se divertir com os amigos em casa ou na rede. Aqui, arrisco dizer que em nada Zero deve ao original.
A trilha sonora, por sua vez, é o pouco que restou na alma da Rare. As composições são muito familiares a tudo que ouvi no jogo do N64, assim como lembra muitas outras criações da empresa. Não foram poucos os momentos que simplesmente parei para ouvir a música de fundo.
Saudade que não passa
Ao longo das 14 missões principais do jogo e das inúmeras batalhas online, o sentimento que fica é que Perfect Dark Zero é uma tentativa bastante válida de continuar o legado de uma das melhores obras dos videogames, mas, como quase tudo que a Rare fez depois que passou a pertencer a Microsoft, faltou alma, sentimento. Mesmo assim, trata-se de uma jornada que você precisa viver, seja para conhecer a origem de uma das maiores heroínas dos videogames ou apenas para matar a saudade de uma velha amiga.
E você, leitor, tem alguma lembrança desse jogo? Gostou ou achou muito inferior ao primeiro? Não deixe de comentar.
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Daniel Serezane
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