Episódio 2: Tomados (Parte 1/3)
New York City - Três anos atrásEu acabara de voltar da mercearia. Chovia canivetes lá fora, por isso estava feliz de ter voltado para casa e ter encontrado minha querida esposa. Ela ficou trabalhando na capa do meu próximo livro em minha ausência. Alice sempre me apoia, devo a ela a minha carreira como escritor. Imediatamente fui fazer café para ela quando cheguei, ela merecia após ficar horas a fio trabalhando, mas mal liguei a cafeteira e a escuridão tomou a casa. Uma queda de energia, e isso era um mau sinal; Alice tem escotofobia, medo anormal do escuro.
Ela insistia que era mentira. Não iria contrariar. |
Tínhamos um ao outro, eu não podia ser mais feliz que isso.
Bright Falls - PresenteDurante a manhã, um doutor veio me examinar na delegacia. Minha mente estava conturbada com os acontecimentos da noite anterior, mas tive de mentir sobre como estava me sentindo. Se eu dissesse que estava com perda de memória e uma dor de cabeça descomunal, ele não me deixaria sair dali e eu não poderia buscar minha esposa. Fui até a xerife, Sarah Breaker, e questionei se já haviam homens trabalhando na procura de Alice, mas ela parecia mais interessada no motivo de eu ter aparecido no posto de Carl Stucky e ele estar desaparecido. Eu não podia dizer a ela que o matei porque ele estava tomado pela escuridão. Felizmente, meu celular tocou, e foi a chance perfeita de sair da sala. Pena que isso teve um preço.
Ele me ligou dentro da delegacia. Medo não parece ser problema. |
Barry me ligou, e isso foi uma bênção. Ele poderia me levar pra longe dali. Pretendia sair da delegacia quando acabei esbarrando no Dr. Emil Hartman, o responsável por eu estar naquela cidade e nessa situação toda. Se ele não tivesse falado com Alice, ela ainda estaria comigo. Eu não consegui pensar em mais nada antes de fechar o punho e apresentá-lo à face de Hartman. Claro que não foi uma ideia tão boa em uma delegacia, mas a ira era grande demais. A xerife Breaker se aproximou, mas Barry entrou em seguida e me resgatou, como um cavaleiro em uma armadura brilhante. Bem, troque a armadura brilhante por uma jaqueta vermelha e horrível, e o cavaleiro por… bem, vocês entenderam.
Barry não pareceu colocar muita fé em minha história. |
Após conversar com o dono da estalagem, que cuidava de um cachorro aparentemente doente, fiquei a tarde inteira ouvindo Barry tentando me fazer ver que era tudo apenas um sonho vívido que tive, uma ilusão. Eu não o culpava por não acreditar, não sei se eu acreditaria. A noite caiu, o momento de encontrar o sequestrador estava chegando. Tomei uma lanterna em mãos e intimei meu amigo a ficar na casa, instruindo-o a chamar a polícia se eu não voltasse até a manhã. Saí e segui floresta adentro, sem a certeza de que voltaria a ver meu agente.
Se bem que, provavelmente seria tarde. |
Episódio 2: Tomados (Parte 2/3)
Mal saí e vi aquele brinquedo se mexendo sozinho. Já quero voltar pra dentro. |
O que era essa mulher?! |
Corri para dentro da casa e vi escombros de madeira por todas direções. Um rastro de sangue me deixou apavorado, mas ver Rusty no fim do rastro foi o pior. Corri e vi um ferimento feio, enquanto ele balbuciava alguma coisa sobre algo ter acontecido assim como estava descrito em uma página. Da mesma forma que as páginas que encontrei outrora, parece que tudo estava seguindo como o livro que escrevi e não me lembro. O homem me deu as chaves para ligar o gerador, e decerto seria bom iluminar o local. Olhei para o lado e vi o cachorro na jaula, preso; quis soltá-lo, mas não era o momento. Tinha de correr.
Quando os Taken morrem, eles desaparecem. Não estou habituado com sangue. |
Corri para onde Rusty estava, mas encontrei apenas um buraco colossal na parede. Saí para os fundos da casa e ouvi a voz do guarda florestal, virando apenas para constatar que ele havia sido tomado pela escuridão também. Tive de ser ágil e esperar ele chegar perto o suficiente para juntar a lanterna em seu rosto, queimando as sombras e permitindo que eu descarregasse o revolver em seu peito. A cada vez que eu puxava o gatilho, mais o desespero me consumia. O que eu estava me tornando?!
E o caminho só piora. |
Atravessei a floresta em uma situação que jamais me imaginara. Quero dizer, já era estranho ter de matar alguém por defesa pessoal, mas sair por aí direcionando uma arma e pronto para atirar em qualquer sombra suspeita é absurdo. Isso só piorou quando encontrei uma espingarda, que deixei nas costas, presa pela alça, para o caso de emergências. Eu sabia que isso chegaria, porque a munição era pouca para tantos Taken, o que me faz perguntar quantas vidas eu estou destruindo ou quantas famílias perderam entes queridos em minha busca por Alice.
Cheguei até uma plataforma semelhante a um bonde que levava até o outro lado do penhasco. Acionei os botões e comecei a avançar, apenas para ser atacado por um bando de corvos, ao visto possuídos pela escuridão também. Fui jogado para fora quando o bonde que se descontrolou e bateu no outro lado do penhasco, ficando longe da lanterna e diante do monte de corpos que se aproximavam, prestes a me dilacerar. Engoli seco, me desesperei, senti que era meu fim. Vi uma luz vermelha tomar tudo e fechei os olhos. Era o meu fim.
Aquela foice iria descer em mim, e eu não podia fazer nada. |
Episódio 2: Tomados (Parte 3/3)
Eu quase comecei a acreditar em milagres depois disso. Eu disse quase. |
Conforme andávamos, notei que o caminho que ele guiava era o para o Pico dos Amantes. Olhando o rosto dele por algum tempo, o reconheci como uma das pessoas na balsa que me levou para Bright Falls. Ele me chamava pelo nome. Travei por um momento. Aquele homem só podia ser o sequestrador. Ele comentou que devíamos ir por ali porque era assim que a história seguia, será que ele falava das páginas? Eram muitas perguntas, mas ele estava armado e eu não. Minha prioridade era sobreviver.
Ou a estrutura estava fraca, ou sou mais forte do que penso. |
A parte mais difícil de seguir floresta adentro sem uma trilha era que o perigo era dobrado. Taken começaram a aparecer de todos os lados e eu nem tinha munição para enfrentar tantos, tanto que tive de recorrer aos sinalizadores para fugas mais estratégicas. Em uma dessas vezes, joguei o sinalizador no chão e este acionou uma armadilha para ursos, o que me fez olhar em volta e ver que eu estava cercado de peças como essa. Tive de andar com cuidado, mas isso me deu uma ideia: se haviam armadilhas, devia haver uma cabana de caçadores por perto. Meu raciocínio me levou a um pequeno armazém onde encontrei um rifle. Agora eu me sentia mais seguro.
Era bom estar sobre rodas, só pra variar. |
No caminho, o sequestrador me ligou, pedindo pelo manuscrito. Como eu não o possuía, precisava enrolar o homem até conseguir as páginas e preservar a segurança de Alice. Disse para ele que ainda precisava terminar de escrever e pedi por uma semana, mas ele me deu dois dias. Em dois míseros dias eu deveria encontrá-lo na Mina de Carvão de Bright Falls, ao meio-dia, com o manuscrito pronto. O pior é que não fazia ideia de como resolver isso.
Imagine se todos resolverem fazer caca ao mesmo tempo. |
O brilho da lua tomou toda a região e os pássaros desapareceram. Quase como num milagre, Deus Ex Machina parecia estar ao meu lado. Sorri num alívio cansado, desligando a lanterna e correndo para dentro de casa, onde fiquei os próximos minutos ouvindo Barry se desculpando por achar que eu estava tendo um surto psicótico. Eu não o culpava, eu realmente achava que ainda estava tendo um. Mesmo que aquilo tudo fosse real, eu já não confiava que a minha sanidade estava intacta.
O pior eu nem imaginava... |
Meu desespero, contudo, não era grande o suficiente. Barry estava recebendo uma ligação naquele momento, de Rose, afirmando que encontrou páginas do meu manuscrito e pedindo para encontrarmos ela em sua casa, do lado de fora da cidade em um acampamento de trailers. Isso seria excelente, se não fosse pela mulher de preto ao lado de Rose, manipulando cada ação da atendente.
Isso conclui o segundo episódio do Blast Log de Alan Wake (X360). Quais segredos guarda a misteriosa mulher de preto? Como funciona a escuridão que envolve os Taken? E o sequestrador, como conseguiu colocar as mãos em Alice? Essas e outras perguntas só terão resposta em breve, e torçamos para que as trevas não nos levem embora antes disso…
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole
E se quiserem conferir uma outra perspectiva do jogo, confira a quarta parte do gameplay comentado da vlogger Marjorye Prado em nosso canal do YouTube!
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