Blast Log

Alan Wake (X360) - Parte 2: Tomados pela escuridão

Tenha um vislumbre da escuridão que está recaindo sobre Bright Falls na segunda parte do diário de bordo do protagonista, Alan Wake!

No capítulo anterior, conhecemos um pouco da história de Alan Wake, o escritor de suspense que perdeu a inspiração e foi para Bright Falls com a sua esposa para tentar descansar a mente. Contudo, essas férias não estão saindo como esperado, já que Alice desapareceu, Wake perdeu uma semana de sua vida sem saber como e está sendo perseguido por criaturas da escuridão que não sabe de onde vieram. Agora, Alan precisa desvendar esse mistério e encontrar a sua esposa, antes que seja tarde demais - se já não for.

Episódio 2: Tomados (Parte 1/3)

New York City - Três anos atrás
Eu acabara de voltar da mercearia. Chovia canivetes lá fora, por isso estava feliz de ter voltado para casa e ter encontrado minha querida esposa. Ela ficou trabalhando na capa do meu próximo livro em minha ausência. Alice sempre me apoia, devo a ela a minha carreira como escritor. Imediatamente fui fazer café para ela quando cheguei, ela merecia após ficar horas a fio trabalhando, mas mal liguei a cafeteira e a escuridão tomou a casa. Uma queda de energia, e isso era um mau sinal; Alice tem escotofobia, medo anormal do escuro.

Ela insistia que era mentira.
Não iria contrariar.
Corri e peguei uma lanterna, iluminando o caminho até a sala, fui trazendo Alice comigo para ficarmos juntos até a luz retornar. Ela pediu para que eu contasse uma história, então disse a ela que, quando eu era criança costumava ter medo do escuro. Eu tinha muitos pesadelos com uma escuridão me perseguindo. Por este motivo, minha mãe me deu um interruptor de abajur velho, cortado na parte do fio. Ela o chamava de “Clicker”, e dizia que, se eu apertasse o botão, a luz iria afastar toda a escuridão. Alice não acreditou em mim, então tirei o Clicker do bolso e o ofereci. Ela ainda insistiu que era mentira, mas disse que me amava. Não discordei, apenas sorri.

Tínhamos um ao outro, eu não podia ser mais feliz que isso.
Bright Falls - Presente
Durante a manhã, um doutor veio me examinar na delegacia. Minha mente estava conturbada com os acontecimentos da noite anterior, mas tive de mentir sobre como estava me sentindo. Se eu dissesse que estava com perda de memória e uma dor de cabeça descomunal, ele não me deixaria sair dali e eu não poderia buscar minha esposa. Fui até a xerife, Sarah Breaker, e questionei se já haviam homens trabalhando na procura de Alice, mas ela parecia mais interessada no motivo de eu ter aparecido no posto de Carl Stucky e ele estar desaparecido. Eu não podia dizer a ela que o matei porque ele estava tomado pela escuridão. Felizmente, meu celular tocou, e foi a chance perfeita de sair da sala. Pena que isso teve um preço.
Ele me ligou dentro da delegacia.
Medo não parece ser problema.
Atendi, ouvi a voz de Alice em desespero. Em seguida, uma voz masculina tomou o comando, me dando uma série de ordens e eu tinha de obedecer se quisesse vê-la novamente. Eu fui para os fundos da delegacia, tinha um buraco na cerca e eu passei por ele. Dentro de uma uma caminhonete abandonada estava a carteira de motorista de Alice, confirmando a história do homem, então não tive muita escolha senão despistar a polícia e ir de encontro ao homem no Parque Nacional de Elderwood, em um local chamado “Pico dos Amantes”, à meia-noite. Isso me parece mais um convite de encontro do que uma ameaça, mas como disseram estar me observando, eu não podia tentar nenhuma gracinha.

Barry me ligou, e isso foi uma bênção. Ele poderia me levar pra longe dali. Pretendia sair da delegacia quando acabei esbarrando no Dr. Emil Hartman, o responsável por eu estar naquela cidade e nessa situação toda. Se ele não tivesse falado com Alice, ela ainda estaria comigo. Eu não consegui pensar em mais nada antes de fechar o punho e apresentá-lo à face de Hartman. Claro que não foi uma ideia tão boa em uma delegacia, mas a ira era grande demais. A xerife Breaker se aproximou, mas Barry entrou em seguida e me resgatou, como um cavaleiro em uma armadura brilhante. Bem, troque a armadura brilhante por uma jaqueta vermelha e horrível, e o cavaleiro por… bem, vocês entenderam.

Barry não pareceu colocar muita
fé em minha história.
Contei tudo para Barry, sem poupar detalhes. Claro que ele me achou insano, mas na posição de amigo, ele era a única pessoa em que eu podia confiar - mesmo estando dando mais atenção ao manuscrito que aparentemente escrevi do que para o fato de eu ter matado alguém. Ele me levou até uma estalagem alugada em Elderwood, onde encontramos com Rose, a atendente da cafeteria. Pelo olhar de Barry, estavam claras quais eram suas intenções com a moça. Esta logo nos deixou, e entramos na casa.

Após conversar com o dono da estalagem, que cuidava de um cachorro aparentemente doente, fiquei a tarde inteira ouvindo Barry tentando me fazer ver que era tudo apenas um sonho vívido que tive, uma ilusão. Eu não o culpava por não acreditar, não sei se eu acreditaria. A noite caiu, o momento de encontrar o sequestrador estava chegando. Tomei uma lanterna em mãos e intimei meu amigo a ficar na casa, instruindo-o a chamar a polícia se eu não voltasse até a manhã. Saí e segui floresta adentro, sem a certeza de que voltaria a ver meu agente.
Se bem que, provavelmente seria tarde.

Episódio 2: Tomados (Parte 2/3)

Mal saí e vi aquele brinquedo se mexendo sozinho.
Já quero voltar pra dentro.
Enquanto andava na trilha em direção ao Pico dos Amantes, questionava minha sanidade não somente pelos comentários insistentes de Barry, mas por não ter falado com a polícia sobre o sequestrador. Ir sozinho não foi minha ideia mais inteligente, mas eles ligaram no meu celular enquanto estava dentro de uma delegacia! Acho que a polícia não é algo que eles temam. Fiquei com medo de não chegar a tempo, então corri escuridão adentro, passando por algumas casas na floresta e postes que mostravam o caminho, até que senti o chão desaparecer e minha mente nublar.
O que era essa mulher?!
Caí de joelhos e tive uma visão. Ela foi bruta, rápida, desnorteante. Vi uma máquina de escrever, vi Alice afundando no lago, vi aquela mulher de preto atrás dela. Levei alguns instantes até recuperar o equilíbrio e voltar a caminhar, e temi que meu lapso de tempo tivesse feito com que me atrasasse. Só voltei aos meus sentidos quando ouvi um estrondo e gritos mais à frente, na direção da casa de Rusty, o dono da cabana na qual eu estava hospedado.

Corri para dentro da casa e vi escombros de madeira por todas direções. Um rastro de sangue me deixou apavorado, mas ver Rusty no fim do rastro foi o pior. Corri e vi um ferimento feio, enquanto ele balbuciava alguma coisa sobre algo ter acontecido assim como estava descrito em uma página. Da mesma forma que as páginas que encontrei outrora, parece que tudo estava seguindo como o livro que escrevi e não me lembro. O homem me deu as chaves para ligar o gerador, e decerto seria bom iluminar o local. Olhei para o lado e vi o cachorro na jaula, preso; quis soltá-lo, mas não era o momento. Tinha de correr.

Quando os Taken morrem,
eles desaparecem. Não estou
habituado com sangue.
Os circuitos estavam quebrados, a luz não poderia voltar. Novamente ouvi gritos e corri para fora sem olhar pro chão, o que me arrependi ao pisar em algo que fez uma dor escruciante subir por minha perna. Olhei para o chão e vi o que parecia ser uma poça de petróleo, como escuridão líquida. Parecia que aquilo que me perseguiu no pesadelo e na noite passada estava ali, e bem forte. Ergui o rosto e vi um par de lenhadores vindo em minha direção, cobertos pelas trevas. Puxei a arma e a lanterna e comecei a disparar.

Corri para onde Rusty estava, mas encontrei apenas um buraco colossal na parede. Saí para os fundos da casa e ouvi a voz do guarda florestal, virando apenas para constatar que ele havia sido tomado pela escuridão também. Tive de ser ágil e esperar ele chegar perto o suficiente para juntar a lanterna em seu rosto, queimando as sombras e permitindo que eu descarregasse o revolver em seu peito. A cada vez que eu puxava o gatilho, mais o desespero me consumia. O que eu estava me tornando?!
E o caminho só piora.
Corri dali e comecei a descer escadarias de madeira para voltar ao caminho certo. Meu telefone tocou, saquei-o com rapidez esperando que fossem os sequestradores, mas era Barry. Felizmente ele não veio me chamar de louco, já que viu da janela a situação toda. Ele desejou que eu tivesse cuidado, e eu precisaria, já que avistava mais e mais dos Taken no caminho à seguir. Encontrei munição e baterias para a lanterna em um posto de emergência; isso viria à calhar.

Atravessei a floresta em uma situação que jamais me imaginara. Quero dizer, já era estranho ter de matar alguém por defesa pessoal, mas sair por aí direcionando uma arma e pronto para atirar em qualquer sombra suspeita é absurdo. Isso só piorou quando encontrei uma espingarda, que deixei nas costas, presa pela alça, para o caso de emergências. Eu sabia que isso chegaria, porque a munição era pouca para tantos Taken, o que me faz perguntar quantas vidas eu estou destruindo ou quantas famílias perderam entes queridos em minha busca por Alice.

Cheguei até uma plataforma semelhante a um bonde que levava até o outro lado do penhasco. Acionei os botões e comecei a avançar, apenas para ser atacado por um bando de corvos, ao visto possuídos pela escuridão também. Fui jogado para fora quando o bonde que se descontrolou e bateu no outro lado do penhasco, ficando longe da lanterna e diante do monte de corpos que se aproximavam, prestes a me dilacerar. Engoli seco, me desesperei, senti que era meu fim. Vi uma luz vermelha tomar tudo e fechei os olhos. Era o meu fim.
Aquela foice iria descer em mim, e eu não podia fazer nada.

Episódio 2: Tomados (Parte 3/3)

Eu quase comecei a acreditar em milagres depois disso. Eu disse quase.
Ou foi o que pensei. Ouvi disparos e abri os olhos, vendo um homem segurando um bastão que emitia uma forte e incandescente luz, e com uma arma na outra mão. Este me deu a abertura que precisava para pegar minha lanterna, mas não encontrei minhas armas. O homem indicou o caminho e me deu alguns destes bastões vermelhos. Sinalizadores. A luz forte quebrava a escuridão dos Taken e os mantia afastados, então era bom usar em emergências. Curiosamente, o homem me chamou pelo nome, o que me deixou curioso, porém o segui.

Conforme andávamos, notei que o caminho que ele guiava era o para o Pico dos Amantes. Olhando o rosto dele por algum tempo, o reconheci como uma das pessoas na balsa que me levou para Bright Falls. Ele me chamava pelo nome. Travei por um momento. Aquele homem só podia ser o sequestrador. Ele comentou que devíamos ir por ali porque era assim que a história seguia, será que ele falava das páginas? Eram muitas perguntas, mas ele estava armado e eu não. Minha prioridade era sobreviver.

Ou a estrutura estava fraca,
ou sou mais forte do que penso.
Trabalhei junto com o homem e perdi a conta de quantos nós matamos até chegar no Pico dos Amantes. Esperei que cada um dos Taken que apareciam de todas as direções tivessem caído para poder enfim abordá-lo e questionar sobre a minha esposa. Ele riu e disse que já sabia que eu diria isso, elogiando minha escrita. Ele confirmou o que eu já estava constatando, que ele queria o manuscrito inteiro, ou Alice iria sofrer. Bem, vocês viram como reagi quanto ao doutor Hartman, então já imaginam o que tive de fazer. Não me importei, avancei contra ele e derrubei nós dois do observatório, caindo em uma grande rocha lá embaixo. Felizmente eu continuei consciente - e bem - e imediatamente corri para pegar a arma antes que ele a recuperasse. Ele, por outro lado, correu para longe dali. Eu tinha de segui-lo.

A parte mais difícil de seguir floresta adentro sem uma trilha era que o perigo era dobrado. Taken começaram a aparecer de todos os lados e eu nem tinha munição para enfrentar tantos, tanto que tive de recorrer aos sinalizadores para fugas mais estratégicas. Em uma dessas vezes, joguei o sinalizador no chão e este acionou uma armadilha para ursos, o que me fez olhar em volta e ver que eu estava cercado de peças como essa. Tive de andar com cuidado, mas isso me deu uma ideia: se haviam armadilhas, devia haver uma cabana de caçadores por perto. Meu raciocínio me levou a um pequeno armazém onde encontrei um rifle. Agora eu me sentia mais seguro.
Era bom estar sobre rodas, só
pra variar.
Após uma sessão de parkour improvisado num moinho - onde achei que morreria com a queda, mas só percebi a loucura depois que terminei - eu enfim consegui sair do matagal e voltar para a área de acampamentos. Barry me ligou e disse que estava em desespero, havia pássaros cercando a cabana e atacando-a. Me torturei com a imagem mental antes de decidir por deixar de seguir o sequestrador para ir ajudar meu amigo; ao menos sabia onde ele estava. Peguei um carro “emprestado” no acampamento e disparei em direção à estalagem, temeroso pelo que encontraria.

No caminho, o sequestrador me ligou, pedindo pelo manuscrito. Como eu não o possuía, precisava enrolar o homem até conseguir as páginas e preservar a segurança de Alice. Disse para ele que ainda precisava terminar de escrever e pedi por uma semana, mas ele me deu dois dias. Em dois míseros dias eu deveria encontrá-lo na Mina de Carvão de Bright Falls, ao meio-dia, com o manuscrito pronto. O pior é que não fazia ideia de como resolver isso.

Imagine se todos resolverem fazer
caca ao mesmo tempo.
Cheguei na estalagem e encontrei um bando de pássaros negros, semelhantes aos que me atacaram no bonde, eles estavam cercando e avançando na casa, com o Barry desesperado lá dentro. Projetei a luz contra o bando e fiquei correndo para evitá-los, mas a quantidade que tinha no céu era absurda. Desesperei. As baterias acabariam antes de conseguir banir todos eles. Tudo que eu poderia fazer era tentar afastá-los o mais que eu podia e torcer para que fossem embora, desistissem de atacar. Foi aí que as nuvens se afastaram.

O brilho da lua tomou toda a região e os pássaros desapareceram. Quase como num milagre, Deus Ex Machina parecia estar ao meu lado. Sorri num alívio cansado, desligando a lanterna e correndo para dentro de casa, onde fiquei os próximos minutos ouvindo Barry se desculpando por achar que eu estava tendo um surto psicótico. Eu não o culpava, eu realmente achava que ainda estava tendo um. Mesmo que aquilo tudo fosse real, eu já não confiava que a minha sanidade estava intacta.
O pior eu nem imaginava...
Depois de uma boa noite de sono, incumbi Barry de ir até a cidade e buscar informações baseado na minha descrição do sequestrador, enquanto eu fiquei em casa tentando escrever para ter o que oferecer no próximo encontro, nas minas de carvão. Infelizmente, eu estava lutando contra o papel e apanhando. Sempre acreditei que o sobrenatural fosse um reflexo da psique humana usado para lhe inspirar e escrever. Agora isso era real e eu não conseguia colocar nada no papel. Podemos ser tomados pela escuridão de muitas formas, e não somente a qual os Taken são pegos. Eu estava envolucrado pelas trevas da ignorância.

Meu desespero, contudo, não era grande o suficiente. Barry estava recebendo uma ligação naquele momento, de Rose, afirmando que encontrou páginas do meu manuscrito e pedindo para encontrarmos ela em sua casa, do lado de fora da cidade em um acampamento de trailers. Isso seria excelente, se não fosse pela mulher de preto ao lado de Rose, manipulando cada ação da atendente.

Isso conclui o segundo episódio do Blast Log de Alan Wake (X360). Quais segredos guarda a misteriosa mulher de preto? Como funciona a escuridão que envolve os Taken? E o sequestrador, como conseguiu colocar as mãos em Alice? Essas e outras perguntas só terão resposta em breve, e torçamos para que as trevas não nos levem embora antes disso…
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole

E se quiserem conferir uma outra perspectiva do jogo, confira a quarta parte do gameplay comentado da vlogger Marjorye Prado em nosso canal do YouTube!


é graduando em Ciências Contábeis e amante de uma boa discussão sobre videogames. Além de escrever para o Xbox Blast, também é redator nas revistas Nintendo World e EGW. Para elogios e críticas, pode encontrá-lo no Facebook ou Twitter.

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