Antes de ler, esteja certo de que já viu as partes anteriores!
Parte 1: Um pesadelo acordado
Parte 2: Tomados pela escuridão
Parte 3: Resgate sem refém
Parte 4: A luz da verdade
Parte 5: Um click para a salvação
Episódio 6: Departure (Parte 1/3)
New York City - Dois anos atrásQue ressaca. Minha cabeça estava explodindo. A luz do lado de fora fazia meus olhos quererem saltar das órbitas e fugir para algum canto escuro, a salvo da agressividade da iluminação. Levantei da cama com certa tontura, com dificuldade para coordenar meus movimentos, mas consegui andar até o criado mudo para pegar meus óculos de sol. Agora eu conseguia andar por aí sem parecer um vampiro no sol.
Fui ao banheiro para tomar alguns analgésicos. O efeito foi tão rápido que suspeito que tenha sido placebo. Acho que estou ficando viciado. Bem, deveras, eu passo mais tempo escrevendo que falando, uma hora as doses de analgésicos diárias iriam puxar meu pé. Talvez eu precise de férias, ou precise aprender a lidar melhor com a dor. Acionei a secretária eletrônica e ouvi Barry falando sobre como fomos longe demais na festa de ontem, mas que isso fazia parte do marketing. Ele é meu agente, eu não podia discutir.
Tínhamos um ao outro. Isso me mantinha de pé. |
Nada poderia dar errado.
Bright Falls - PresenteÉ isso. Chegou a hora de partir. Pressionei o Clicker apenas como teste, mas nada aconteceu. Talvez eu tivesse de usá-lo diante de Cauldron Lake, conforme instruído por Zane? Bem, eu tinha de ir. Barry e Sarah queriam vir comigo, mas não permiti. Era algo que eu precisava fazer sozinho, eu não podia arriscar mais nenhuma vida. Eu comecei isso, eu iria terminar. Saí da Sala Iluminada, pronto para encarar o meu destino.
A escuridão nunca esteve tão implacável. |
Os Takens não demoraram para surgir, mas eu estava equipado e pronto para eles, ainda mais sendo tão poucos. Um deles deixou uma página cair no chão, página esta que imediatamente recolhi e reuni com o resto do manuscrito, quase completo. Nesta folha, fui advertido que a Presença Negra já não quer mais me capturar, e sim me impedir de chegar em Cauldron Lake. Por algum motivo, sorri. Apesar do perigo dobrado, eu sentia que isso era um bom sinal. O Clicker realmente pode acabar com tudo.
Ao ponto de todo o espaço ao meu redor ser hostil. |
Voltei ao carro e segui viagem, agora sendo atacado não somente pelos tomados pela escuridão, mas por objetos voadores também. Provei para mim que era um bom piloto depois de desviar de tantos obstáculos. Contudo, a Presença Negra era uma adversária perspicaz, posicionando veículos de tal forma na ponte que não consegui passar com o carro. Tive de descer, e agora era uma presa mais fácil. Saquei um dos bastões de sinalizador e corri para não ser atingido.
Parece que a Presença Negra cansou de brincadeiras. |
As trevas então pareceram desistir de brincar e partiram para a apelação. Possuindo um trator, avançaram contra o carro que eu estava usando, e tive de brincar de ir e voltar com o veículo para desviar e manter o farol alto focado na máquina que ganhou vida. Percebi que não ia conseguir por muito tempo, então acionei o farol alto e saltei porta afora, deixando que os dois se chocassem e a luz fizesse seu efeito, desintegrando assim o monstro metálico. Felizmente, havia mais carros por ali, e ninguém sentiria falta deles. A noite ia ser bem longa…
A minha sorte está na lentidão dessa máquina mortífera. |
Episódio 6: Departure (Parte 2/3)
Ela continua me provocando. Eu preciso alcançar Alice. |
Passei por uma fazenda e tive de seguir a pé, para o meu desespero. Senti uma tontura e ouvi a voz de Barbara Jagger, possuída pelas trevas, afirmando que não devolveria minha esposa. Tão logo a voz partiu e a Presença Negra começou a agir, erguendo carros, formando tornados, destruindo tudo à minha volta. Saquei o sinalizador e me mantive na luz vermelha até alcançar uma luz de busca, usando do poderoso mini-farol para afastar a massa de sombras que me seguia. Ao menos ganhei tempo para seguir em frente.
Agora faltava pouco. |
Ao menos o atalho compensou e consegui chegar do outro lado, agora bem mais perto do meu objetivo. Inimigos cada vez mais fortes surgiam, Takens mais rápidos e mais bem armados, com mais resistência e ansiosos pelo meu sangue. Lembro de como Carl Stucky parecia um absurdo comparado aos outros que surgiam, mas agora todos tinham uma força equivalente ou superior a dele. Tive de ser cauteloso para não dar disparos em falso com a espingarda, pois toda munição era necessária.
Um. Maldito. Navio. |
Encontrei uma fonte confiável de luz e resolvi parar um pouco pra ler as páginas que reuni até ali. Uma dizia que o fundo de Cauldron Lake parecia um cemitério, com tudo que o lago já engoliu e consumiu, desde pessoas até navios. Outra dizia que Thomas Zane, num ato de desespero, arrancou o coração de sua Barbara ao ver que ela estava possuída, mas a escuridão não abandonou seu corpo e continuou a atormentá-la. Dessa forma, ele mergulhou no fundo do lago junto com a Presença Negra, a sepultando abaixo da ilha.
As páginas deixadas por Zane sempre me guiavam. |
Me aproximando de um vale, ouvi a voz de Jagger mais uma vez enquanto ela tentava selar meu caminho com entulhos possuídos pelas trevas. Os eliminei com a lanterna e avancei, e enfim descobri porque a influência da Presença Negra era tão forte por ali; eu estava perto de sua fonte. Do outro lado do vale, eu já podia avistar Cauldron Lake. No centro dele, um furacão de sombras erguendo pedras, carros, árvores e barcos, jogando tudo que podia contra mim. Eu estava diante da derradeira inimiga e essa era a chance que esperava de salvar minha esposa. Corri.
Era agora ou nunca, eu não podia fraquejar. |
A explosão fez o tornado oscilar, e este começou a atacar com ainda mais violência. Me abaixei para me esquivar dos pássaros e dos carros, e então disparei mais uma vez. E de novo. As explosões repetidas e a luz vermelha conseguiram tirar o balanço dos ventos sombrios e o furacão cedeu, abrindo caminho para o lago. Me aproximei da beirada e vi suas águas, tão escuras e verdes como eu me lembrava. Larguei a arma e peguei o Clicker. Era agora ou nunca. Aquilo precisava ter um fim. Pulei na água.
Espero não me arrepender disso... |
Episódio 6: Departure (Parte 3/3)
...à primeira instância, me arrependi. |
Para todo cômodo que eu andava, Alice surgia, circundada pela escuridão. Ela perguntava se eu havia ingerido minhas medicações e se deveria chamar o doutor Hartman. Será que tudo não passou de um sonho? Um pesadelo lúcido? Andei até a sala e encontrei um campo de distorção que me feria se eu o tocasse. Ergui a lanterna e queimei as trevas até revelar o Clicker. O tomei com a mão direita e pressionei o botão, deixando a luz tomar o local, uma luz quente e acolhedora.
Seria ele uma criação de Zane? Ou talvez minha? |
Estava diante do que parecia ser uma realidade paralela, a casa da escuridão. Diversas palavras tomavam o lugar de objetos reais, e a luz fazia com que elas sumissem e dessem espaço para o que deveria estar lá. Era como as páginas haviam indicado. Dessa maneira, só tive de querer encontrar a cabana e lá ela estava. Estava na porta, prestes a entrar. Ali seria o fim. Respirei fundo e entrei.
Para uma grande sombra, uma luz equivalente. |
O caminho estava livre até a escrivaninha e a máquina de escrever. Andei até lá e me sentei, já sabendo o que eu teria de escrever. Eu aprendi, nessa história, que luz e trevas andam lado a lado. Não existe causa sem efeito, culpa sem expiação, a balança sempre precisa de equilíbrio. Foi nisso que Zane falhou em sua criação, e era ali que eu não iria cair. Eu iria criar um mundo sem falhas, onde o preço de tudo fosse respeitado e as trevas seriam novamente seladas.
Rose não merecia esse fardo, e acho que nem Nightingale. |
Tudo estava em seu devido lugar, menos eu. Eu permaneci aqui, na casa da escuridão, na morada das sombras. Aqui, no Dark Place, onde a luz não pode me alcançar, é onde eu terminarei a minha obra-prima, o livro Departure. A minha partida do mundo de luz para o da escuridão me deu, ironicamente, uma clarificação sobre como essa história deveria terminar. Somente agora o pesadelo que eu tive antes de chegar em Bright Falls fez sentido. Somente agora a poesia de Thomas Zane se consumou e me revelou a realidade por trás da escuridão que veemente subestimei.
Nestes portos eu já estive. Não é um lago.
É um oceano.
Isso conclui a última etapa da história de Alan Wake... Ou quase. De fato, o sexto episódio é onde o jogo termina, mas não a sua trama. O que isso quer dizer? Bem, vocês terão de aguardar até a próxima semana para descobrir. Nos vemos no próximo domingo para ver se este é o verdadeiro desfecho dessa história.
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole
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