Blast Log

Alan Wake (X360) - Parte 6: A despedida de um escritor

O confronto com a escuridão está em sua reta final e Alan terá de reunir tudo que aprendeu até hoje se quiser salvar sua esposa e tudo aquilo que ama.

A história de Alan Wake está perto de acabar. Agora que encontrou a grande herança de Thomas Zane para conseguir expurgar a escuridão, o Clicker, o escritor pode enfim ir de encontro com seu destino final e enfrentar a Presença Negra que paira sobre Bright Falls. Se ele não vencer, as trevas irão engolir a cidade, o país, o mundo. Será Wake capaz de vencer as trevas que ele ajudou a criar? Isso vocês descobrem a seguir, na parte decisiva do Blast Log de Alan Wake (X360)!
Antes de ler, esteja certo de que já viu as partes anteriores!

Parte 1: Um pesadelo acordado
Parte 2: Tomados pela escuridão

Parte 3: Resgate sem refém

Parte 4: A luz da verdade

Parte 5: Um click para a salvação

Episódio 6: Departure (Parte 1/3)

 New York City - Dois anos atrás
Que ressaca. Minha cabeça estava explodindo. A luz do lado de fora fazia meus olhos quererem saltar das órbitas e fugir para algum canto escuro, a salvo da agressividade da iluminação. Levantei da cama com certa tontura, com dificuldade para coordenar meus movimentos, mas consegui andar até o criado mudo para pegar meus óculos de sol. Agora eu conseguia andar por aí sem parecer um vampiro no sol.

Fui ao banheiro para tomar alguns analgésicos. O efeito foi tão rápido que suspeito que tenha sido placebo. Acho que estou ficando viciado. Bem, deveras, eu passo mais tempo escrevendo que falando, uma hora as doses de analgésicos diárias iriam puxar meu pé. Talvez eu precise de férias, ou precise aprender a lidar melhor com a dor. Acionei a secretária eletrônica e ouvi Barry falando sobre como fomos longe demais na festa de ontem, mas que isso fazia parte do marketing. Ele é meu agente, eu não podia discutir.

Tínhamos um ao outro.
Isso me mantinha de pé.
Alice chegou em seguida, minha esposa. Ela não parecia irritada com meu atraso mas, conhecendo ela, acho que já encheu a cabeça de Barry com isso. Admito que meu estado não cooperou com uma boa conversação e acabei sendo grosso. Percebi que passei dos limites e fiquei feliz de ter uma esposa tão compreensiva. Eu queria recompensá-la. Depois que aquela turnê de promoção do meu livro anterior estivesse acabada, eu gostaria de viajar com ela. Férias, um lugar pacífico e calmo. Só eu e ela.

Nada poderia dar errado.
Bright Falls - Presente
É isso. Chegou a hora de partir. Pressionei o Clicker apenas como teste, mas nada aconteceu. Talvez eu tivesse de usá-lo diante de Cauldron Lake, conforme instruído por Zane? Bem, eu tinha de ir. Barry e Sarah queriam vir comigo, mas não permiti. Era algo que eu precisava fazer sozinho, eu não podia arriscar mais nenhuma vida. Eu comecei isso, eu iria terminar. Saí da Sala Iluminada, pronto para encarar o meu destino.

A escuridão nunca esteve
tão implacável.
Do lado de fora, era dia. Eu não sei como o sol nasceu tão rápido e cheguei a me perguntar se era obra do Clicker. De qualquer maneira, peguei um carro e disparei estrada abaixo, tirando proveito das horas de sol para ter uma vantagem nessa corrida contra o tempo. Infelizmente, na metade do caminho, a estrada ficou bloqueada no interior de um túnel. Desci do carro e resolvi continuar a pé. Infelizmente, tão logo toquei o chão, senti a escuridão me tocar também; a névoa cobriu o local e os raios de sol se tornaram impotentes perante as trevas que tomavam a cidade para si.

Os Takens não demoraram para surgir, mas eu estava equipado e pronto para eles, ainda mais sendo tão poucos. Um deles deixou uma página cair no chão, página esta que imediatamente recolhi e reuni com o resto do manuscrito, quase completo. Nesta folha, fui advertido que a Presença Negra já não quer mais me capturar, e sim me impedir de chegar em Cauldron Lake. Por algum motivo, sorri. Apesar do perigo dobrado, eu sentia que isso era um bom sinal. O Clicker realmente pode acabar com tudo.

Ao ponto de todo o espaço
ao meu redor ser hostil.
Mais adiante consegui controle de outro carro e abusei de seu porte para avançar através da névoa e dos Takens. Parei minha investida quando cheguei a um hotel, aparentemente vazio. Vasculhei o local em busca de suprimentos e munição, e encontrei o quarto onde o agente Nightingale havia passado suas noites. Munição e granadas de luz me aguardavam lá, e isso foi bem gratificante. Enfim ele havia sido de utilidade. Fugi dali o quanto antes depois disso, já que eu não podia ficar parado muito tempo sem os vassalos da Presença Negra me cercarem.

Voltei ao carro e segui viagem, agora sendo atacado não somente pelos tomados pela escuridão, mas por objetos voadores também. Provei para mim que era um bom piloto depois de desviar de tantos obstáculos. Contudo, a Presença Negra era uma adversária perspicaz, posicionando veículos de tal forma na ponte que não consegui passar com o carro. Tive de descer, e agora era uma presa mais fácil. Saquei um dos bastões de sinalizador e corri para não ser atingido.

Parece que a Presença
Negra cansou de
brincadeiras.
Depois de escapar da estrutura decadente de metal retorcido, peguei outro carro do outro lado e disparei. Era assustador, um território apocalíptico que me fazia questionar se o mundo fora de Bright Falls estava noticiando o armagedom que se formava naquela outrora pacata cidade. Parei em mais um galpão abandonado para constatar que, de fato, a cidade inteira e seus arredores pareciam ter sido consumidos sem deixar rastros. Reuni mais recursos e voltei para a estrada.

As trevas então pareceram desistir de brincar e partiram para a apelação. Possuindo um trator, avançaram contra o carro que eu estava usando, e tive de brincar de ir e voltar com o veículo para desviar e manter o farol alto focado na máquina que ganhou vida. Percebi que não ia conseguir por muito tempo, então acionei o farol alto e saltei porta afora, deixando que os dois se chocassem e a luz fizesse seu efeito, desintegrando assim o monstro metálico. Felizmente, havia mais carros por ali, e ninguém sentiria falta deles. A noite ia ser bem longa…
A minha sorte está na lentidão dessa máquina mortífera.

Episódio 6: Departure (Parte 2/3)

Ela continua me provocando. Eu preciso alcançar Alice.
Quando saí da Sala Iluminada, Barry questionou se eu sabia o que estava fazendo, e respondi que sabia. Era mentira. Eu estava sendo guiado pelo meu instinto de escritor, atuando conforme as lógicas do pesadelo, lutando através da escuridão para chegar ao meu destino e salvar minha esposa. Era lutar pelo final feliz naquela história de horror. Era antitético, mas o meu horror já tinha um porquê. Eu já havia ido contra as leis do terror que Stephen King fundou.

Passei por uma fazenda e tive de seguir a pé, para o meu desespero. Senti uma tontura e ouvi a voz de Barbara Jagger, possuída pelas trevas, afirmando que não devolveria minha esposa. Tão logo a voz partiu e a Presença Negra começou a agir, erguendo carros, formando tornados, destruindo tudo à minha volta. Saquei o sinalizador e me mantive na luz vermelha até alcançar uma luz de busca, usando do poderoso mini-farol para afastar a massa de sombras que me seguia. Ao menos ganhei tempo para seguir em frente.

Agora faltava pouco.
Após sair daquele território, acompanhei com os olhos o sentido que os pássaros negros seguiam no céu e vi que estavam aglomerados perto de Mirror Peak, e ele era adjacente a Cauldron Lake. Peguei um atalho através de um vagão num trilho que seguia de uma montanha para outra, provavelmente usado pelos mineradores da região, e mais uma vez fui atacado pelos corvos. Era incrível como eles sempre surgiam quando eu estava em algum tipo de veículo suspenso e que eu podia morrer se caísse.

Ao menos o atalho compensou e consegui chegar do outro lado, agora bem mais perto do meu objetivo. Inimigos cada vez mais fortes surgiam, Takens mais rápidos e mais bem armados, com mais resistência e ansiosos pelo meu sangue. Lembro de como Carl Stucky parecia um absurdo comparado aos outros que surgiam, mas agora todos tinham uma força equivalente ou superior a dele. Tive de ser cauteloso para não dar disparos em falso com a espingarda, pois toda munição era necessária.

Um. Maldito. Navio.
Quando eu achava que a situação não podia ficar mais absurda, eis que um vagão inteiro de trem desceu rolando a montanha. Desviei por um triz, mas logo em seguida olhei para cima e vi algo ainda pior caindo. Corri para longe e o estrondo me fez ir ao chão. Olhei para trás e vi um navio. Um maldito navio. Eu já não duvidava mais das capacidades da Presença Negra e temia que o próximo alvo de sua brutalidade fosse um avião, então apertei o passo para sobreviver.

Encontrei uma fonte confiável de luz e resolvi parar um pouco pra ler as páginas que reuni até ali. Uma dizia que o fundo de Cauldron Lake parecia um cemitério, com tudo que o lago já engoliu e consumiu, desde pessoas até navios. Outra dizia que Thomas Zane, num ato de desespero, arrancou o coração de sua Barbara ao ver que ela estava possuída, mas a escuridão não abandonou seu corpo e continuou a atormentá-la. Dessa forma, ele mergulhou no fundo do lago junto com a Presença Negra, a sepultando abaixo da ilha.

As páginas deixadas por
Zane sempre me guiavam.
Outras páginas já pareciam narrar o futuro ao invés do passado, e nestas eu estava dentro de um lugar sombrio, ao visto dos domínios da Presença Negra. Um local onde a própria existência parecia a mente distorcida de um escritor. Lá era um local onde a imaginação tinha muito poder, e eu deveria usar isso ao meu favor. Uni as últimas páginas ao restante do manuscrito e preparei meu equipamento. Estava chegando a hora derradeira. Parti.

Me aproximando de um vale, ouvi a voz de Jagger mais uma vez enquanto ela tentava selar meu caminho com entulhos possuídos pelas trevas. Os eliminei com a lanterna e avancei, e enfim descobri porque a influência da Presença Negra era tão forte por ali; eu estava perto de sua fonte. Do outro lado do vale, eu já podia avistar Cauldron Lake. No centro dele, um furacão de sombras erguendo pedras, carros, árvores e barcos, jogando tudo que podia contra mim. Eu estava diante da derradeira inimiga e essa era a chance que esperava de salvar minha esposa. Corri.

Era agora ou nunca, eu
não podia fraquejar.
Minhas pernas ficaram dormentes, talvez fosse uma consequencia do que foi visto, era como se meu corpo estivesse entorpecido demais para sentir dor ou cansaço. Desviei de cada objeto lançado em mim e rolei pelo chão para evadir um vagão que voava de forma inexplicável. Perto do coração do tornado, uma arma de sinalizador com muita munição. A luz emitida por ela teria de servir. Peguei o quanto podia carregar e pulei para o mais perto possível das trevas. Ergui a arma cerrei os dentes. Eu iria terminar o que havia começado. Puxei o gatilho.

A explosão fez o tornado oscilar, e este começou a atacar com ainda mais violência. Me abaixei para me esquivar dos pássaros e dos carros, e então disparei mais uma vez. E de novo. As explosões repetidas e a luz vermelha conseguiram tirar o balanço dos ventos sombrios e o furacão cedeu, abrindo caminho para o lago. Me aproximei da beirada e vi suas águas, tão escuras e verdes como eu me lembrava. Larguei a arma e peguei o Clicker. Era agora ou nunca. Aquilo precisava ter um fim. Pulei na água.
Espero não me arrepender disso...

Episódio 6: Departure (Parte 3/3)

...à primeira instância, me arrependi.
Abri os olhos e puxei ar, como se estivesse submerso por eras. Olhei em volta e me assustei, me jogando pro lado e caindo da cama. Alice estava comigo. Sua voz não parecia normal, contudo; eu podia ouvir o tom de Jagger. Olhei em volta enquanto me levantava e percebi que estava em casa, em New York City. Estava tudo escuro e sombras estranhas pairavam do lado de fora da janela. Aquele tom de sépia que manchava minha vista me preocupava. Aquilo não era real, era? Alice insistia para eu ficar na cama, mas não podia ser verdade.

Para todo cômodo que eu andava, Alice surgia, circundada pela escuridão. Ela perguntava se eu havia ingerido minhas medicações e se deveria chamar o doutor Hartman. Será que tudo não passou de um sonho? Um pesadelo lúcido? Andei até a sala e encontrei um campo de distorção que me feria se eu o tocasse. Ergui a lanterna e queimei as trevas até revelar o Clicker. O tomei com a mão direita e pressionei o botão, deixando a luz tomar o local, uma luz quente e acolhedora.

Seria ele uma criação de Zane?
Ou talvez minha?
Vestido de mergulhador, Thomas Zane entrou na sala e tudo perdeu sua forma. Ele me advertiu que eu precisaria preencher o coração de Barbara com luz se quisesse vencê-la. Eu assenti e olhei para o lado, encontrando o que parecia ser um reflexo de mim. Ele sorriu enquanto eu me afastava, assustado. Segundo Zane, aquele era Mr. Scratch, e disse que eu não deveria dar importância. Meus amigos conheceriam ele em minha ausência. Eu quis entender, mas eu não tinha tempo pra isso. A escuridão se desfez e eu estava no meio do nada.

Estava diante do que parecia ser uma realidade paralela, a casa da escuridão. Diversas palavras tomavam o lugar de objetos reais, e a luz fazia com que elas sumissem e dessem espaço para o que deveria estar lá. Era como as páginas haviam indicado. Dessa maneira, só tive de querer encontrar a cabana e lá ela estava. Estava na porta, prestes a entrar. Ali seria o fim. Respirei fundo e entrei.

Para uma grande sombra,
uma luz equivalente.
Do lado de dentro, Barbara Jagger me aguardava com um buraco no peito. Ela estava fraca depois de tudo aquilo, não podia me impedir. Ela disse que encontraria um novo rosto mesmo que eu vencesse aquele, mas aquilo já não importava. Eu podia vencer as trevas. Me aproximei e coloquei o Clicker dentro do buraco aberto em seu coração antes de apertar o botão. A luz inundou e transbordou a casca vazia de Jagger, expurgando a Presença Negra dela de uma vez por todas.

O caminho estava livre até a escrivaninha e a máquina de escrever. Andei até lá e me sentei, já sabendo o que eu teria de escrever. Eu aprendi, nessa história, que luz e trevas andam lado a lado. Não existe causa sem efeito, culpa sem expiação, a balança sempre precisa de equilíbrio. Foi nisso que Zane falhou em sua criação, e era ali que eu não iria cair. Eu iria criar um mundo sem falhas, onde o preço de tudo fosse respeitado e as trevas seriam novamente seladas.

Rose não merecia esse fardo,
e acho que nem Nightingale.
Escrevi que Alice conseguiu sair do lago naquele dia. A Deerfest aconteceu sem maiores dificuldades. Pat Maine conseguiu uma excelente cobertura do evento para o seu jornal. Tor e Odin Anderson estariam lúcidos. Claro que nem tudo estava ao meu alcance; Rose Marigold, a atendente do Oh Deer!, havia sido tocada pela escuridão da mesma forma que Cynthia Weaver, e agora ela também era portadora da lanterna para se proteger da luz. Nightingale? Não sei o que aconteceu com ele, mas eu senti sua presença quando a escuridão deixou Barbara.

Tudo estava em seu devido lugar, menos eu. Eu permaneci aqui, na casa da escuridão, na morada das sombras. Aqui, no Dark Place, onde a luz não pode me alcançar, é onde eu terminarei a minha obra-prima, o livro Departure. A minha partida do mundo de luz para o da escuridão me deu, ironicamente, uma clarificação sobre como essa história deveria terminar. Somente agora o pesadelo que eu tive antes de chegar em Bright Falls fez sentido. Somente agora a poesia de Thomas Zane se consumou e me revelou a realidade por trás da escuridão que veemente subestimei.

Nestes portos eu já estive. Não é um lago.

É um oceano.
Isso conclui a última etapa da história de Alan Wake... Ou quase. De fato, o sexto episódio é onde o jogo termina, mas não a sua trama. O que isso quer dizer? Bem, vocês terão de aguardar até a próxima semana para descobrir. Nos vemos no próximo domingo para ver se este é o verdadeiro desfecho dessa história.
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole

é graduando em Ciências Contábeis e amante de uma boa discussão sobre videogames. Além de escrever para o Xbox Blast, também é redator nas revistas Nintendo World e EGW. Para elogios e críticas, pode encontrá-lo no Facebook ou Twitter.

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