Imortalidade. Quem nunca pensou como seria a vida se não tivéssemos que nos preocupar com a morte? Poderíamos aproveitar eras diferente... (por Unknown em 23/02/2014, via Xbox Blast)
Imortalidade. Quem nunca pensou como seria a vida se não
tivéssemos que nos preocupar com a morte? Poderíamos aproveitar eras
diferentes, testemunhar avanços científicos e sociais e fazer tudo o que
desejássemos, sem nos preocupar com a falta de tempo. Mas e se nem todos fossem
imortais? Ainda assim veríamos tudo, mas também teríamos que testemunhar a
morte das pessoas com quem convivemos por anos e uma sensação de solidão tomaria
conta. Com isso em mente,
Hironobu Sakaguchi, criador da franquia Final Fantasy, idealizou o que seria uma de suas maiores obras dos últimos anos: Lost Odyssey.
Parceria de peso
Lost Odyssey foi desenvolvido pela Mistwalker em colaboração com a Microsoft Studios. O título era o segundo fruto de uma parceria entre a dona do Xbox e as mentes por trás de Final Fantasy, que buscavam, de alguma forma, atrair o público japonês ao console, que nunca foi muito popular por aquelas bandas. O primeiro jogo lançado,
Blue Dragon, ajudou a impulsionar as vendas na região, mas o jogo foi bastante criticado por ser infantil e simples demais, apesar de sua inegável qualidade. Lost Odyssey chega com uma proposta diferente: apesar de tradicional em sua jogabilidade, o jogo contava com uma história mais profunda e uma temática bem mais adulta que passa longe do clichê “grupo de crianças se une para salvar o mundo”.
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Lost Odyssey foi anunciado na Tokyo Game Show em 2006 |
Lançado no Japão no final de 2007 e no ocidente alguns meses depois, o jogo também não foi o bastante para agradar o público nipônico, vendendo cerca de 50% do que havia sido enviado às lojas, contabilizando menos de 50 mil unidades. Curiosamente, no ocidente o jogo fez bonito e chegou a quase meio milhão de unidades vendidas. Lost Odyssey foi a prova de que a marca Xbox, por alguma razão, não conseguia se popularizar na terra do sol nascente.
A difícil vida de um imortal
O RPG conta a história de Kain, um soldado imortal que perdeu a sua memória e deseja investigar o seu próprio passado. Ao lado de outros imortais, que também não se lembram do que lhes aconteceu, o rapaz se vê no meio de uma guerra entre duas grandes nações, e descobrirá que algo muito sério está prestes a acontecer com toda a humanidade. Durante sua jornada, o soldado une suas forças a mortais e imortais para lutar pelo seu passado e o destino de toda a raça humana.
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O imortal Kain e sua característica expressão de tristeza |
Apesar de parecer simples e até um pouco clichê, Lost Odyssey se diferencia pela gigantesca carga sentimental que seu enredo carrega. Durante a sua jornada, Kain passa por lugares que marcaram sua vida, o que o faz ir recuperando sua memória aos poucos. Conforme isso acontece, o jogador vai percebendo o quão triste foi a vida do rapaz, principalmente pelo fato de ser imortal. Kain vê o amor de sua vida o deixar, assim como seus amigos e até mesmo conhecidos que lhe ajudaram de alguma forma séculos antes. A cada nova lembrança do protagonista, novas peças do enredo vão se encaixando e motivando ainda mais o jogador a chegar ao final de jornada, que dura cerca de sessenta horas, mas podendo se estender a mais de uma centena, caso o jogador queira explorar tudo o que o game tem a oferecer.
A quarta Revolução Industrial
Apesar de não se passar no planeta Terra, Lost Odyssey utiliza-se de diversos artifícios presentes na história da humanidade para compor sua ambientação. A sociedade do jogo se parece muito com a nossa, bem como os meios de transporte e cidades. O jogo se passa no auge de uma Revolução Industrial, que envolve a descoberta da magia para otimizar os processos e guiar o avanço tecnológico daquele lugar.
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A revolução mágico-industrial trouxe uma era de abandono ao mundo do jogo |
A Revolução, que afeta desde a produção de bens até os meios de transporte locais, também gera conflitos políticos e rivalidades. O conflito da vez se dá entre o reino de Gohtza, que deseja utilizar a tecnologia para construir armas de destruição em massa, e a república de Uhra, ex monarquia que busca monopolizar a fonte de energia por meio do Great Staff, um enorme monumento que canaliza a magia presente no mundo. No meio disso, há Numara, uma nação costeira que se mantém neutra ao conflito.
Seguindo a tradição
Lost Odyssey deve ser jogado como a maior parte dos RPGs japoneses mais tradicionais. Em meio a um gigantesco mundo para ser explorado, Kain e seu grupo devem percorrer vastos cenários enquanto enfrentam batalhas aleatórias contra os monstros da região. Mais direto que Blue Dragon, o segundo título da Mistwalker não possui um overworld para ser explorado, de maneira que o jogador apenas deve decidir a localidade que deseja visitar para já ir direto para lá. Contudo, os cenários são enormes e cheios de segredo, de forma que a ausência de um mapa do mundo inteiro não prejudica a exploração.
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Kain devia explorar diversas localidades em busca de suas memórias |
As batalhas seguem à risca a cartilha dos RPGs japoneses de sucesso. Por turno e sem firulas, o sistema possui duas novidades que adicionam elementos bastante divertidos ao jogo. A primeira delas é que, ao executar algum comando, um arco aparecerá na tela de maneira que se o jogador apertar o botão certo na hora certa, o ataque será mais forte. Contudo, caso o jogador erre feio na hora de apertar o botão, o golpe será mais fraco, o que faz com que o jogador deva prestar muita atenção na tela até mesmo depois de definir o ataque do personagem.
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A formação de batalha dava um toque de estratégia ao título |
O segundo elemento, mais complexo, é o de formação do seu time na luta. A equipe pode ter até cinco membros simultaneamente, ficando à disposição do jogador definir quem fica na linha de frente da batalha e quem fica para trás. Os personagens da linha de frente defendem os que estão atrás, de maneira que é recomendável que os personagens mais "linha dura" e com alta defesa fiquem à frente. Enquanto isso, na linha de trás, fica os que atacam à distância ou que têm importância vital para manter todos vivos. A mecânica, muito inovadora, faz com que o jogador tenha que pensar muito além de apenas quais habilidades usar, sendo necessário planejar as lutas desde a formação da equipe até a execução dos ataques e magias.
A obra-prima da Mistwalker
Apesar da inegável qualidade de Blue Dragon e
The Last Story (Wii), Lost Odyssey se sobressai pelo conjunto da obra. Os gráficos são belíssimos, desde a parte técnica até a artística, que lembra muito o estilo consagrado por
Final Fantasy VII (PS) e
Final Fantasy VIII (PS). O ambiente quase medieval se funde com locais muito modernos e cheios de tecnologia. As indústrias tomam conta do mundo do jogo, mas ainda assim há espaço para grandes batalhas de espadas e pequenos vilarejos em meio à natureza. A trilha sonora e atuação dos personagens também são de qualidade ímpar e provam que boa parte da qualidade de um RPG vem da sua capacidade de conquistar os jogadores por meio de sua ambientação e clima. Sendo um dos maiores jogos de Xbox 360, com quatro discos, o jogo nunca decepciona, e é considerado uma das grandes pérolas do console.
Com um sistema de batalha inovador dentro de suas limitações, um gigantesco mundo explorável e uma história que foge do clichê e emociona os jogadores, Lost Odyssey é uma pérola do gênero e entra, ao lado de
Xenoblade Chronicles (Wii) para o grupo de elite dos RPGs japoneses da sétima geração de consoles. Atualmente, o jogo pode ser encontrado por um preço bem baixo em sites internacionais, e sua compra vale muito à pena. E é bom aproveitar, pois ao contrário de Kain, não somos imortais.
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Stéfano Genachi
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