Antes de ler, esteja certo de que já viu as partes anteriores!
Parte 1: Um pesadelo acordado
Parte 2: Tomados pela escuridão
Parte 3: Resgate sem refém
Parte 4: A luz da verdade
Parte 5: Um click para a salvação
Parte 6: A despedida de um escritor
Episódio 7: O Sinal (Parte 1/3)
Por que esse lugar me é tão familiar..? |
Eu estava em uma rua que me parecia familiar e, paradoxalmente, estranha. Estava diante de uma lanchonete, avancei e entrei, ficando diante de alguns rostos que me passavam a mesma sensação de outrora, um deslocado em casa. A atendente, Rose, estava me paparicando, mas um estranho ruído tomou sua voz quando ela tentou falar o nome do recinto e o meu nome também. Agora que percebi, eu não me recordo como me chamo. Minha cabeça dói, mas algo me diz que tinha algo me aguardando nos fundos da lanchonete, naquele corredor com a luz oscilante.
Tudo tem um estranho tom antigo. |
Do outro lado, o banheiro parecia ter sido abandonado há muito tempo. Andei alguns passos e o espelho embaçado e sujo subitamente se tornou uma tela, exibindo uma estática e emitindo uma voz familiar. Essa voz dizia para eu não afundar mais, que estava tentando me alcançar mas o ponto de contato era péssimo. Fiquei perplexo, e então uma imagem assustadora surgiu: eu. Era minha face, desesperada, e subitamente calma. “E então, Wake ficou face a face com ele mesmo”. Um sorriso malévolo. Meu sorriso.
Como pude esquecer quem era ou onde estava? |
Tudo ainda estava confuso, mas ao menos eu sabia que precisava sair dali. Voltei para o corredor e corri para a entrada da lanchonete, mas uma tontura me acometeu e tive de me apoiar na parede. Quando cheguei mais adiante, vi que a tontura não era algo natural, e sim Dark Place se moldando para uma aparência mais hostil. Diversas televisões surgiram e eu me vi narrando o que parecia ser o trecho de um dos meus manuscritos. Nele, eu me cercava de inimigos que queriam me matar em uma lanchonete. Isso não podia ser um bom sinal.
Tentei correr para fora dali, mas Takens surgiram de todos os lados e novamente eu me via nas situações que me perseguiam no mundo real. Bem, eu estava na casa daqueles tomados pela escuridão, era provável que eu teria de enfrentar uma quantidade ainda mais massiva deles. Felizmente a lanterna e a arma que recebi de Zane vieram a calhar, e eu estava bem afiado com os acontecimentos das últimas semanas. Consegui encerrar o embate e fui até a porta. Eu tinha de sair dali, e tinha de encontrar Zane.
Claro, estava demorando pra ação começar. |
Episódio 7: O Sinal (Parte 2/3)
Tudo estava fora do lugar. |
Cheguei até uma casa abandonada que me era familiar, e lá achei uma página no chão. Quando a toquei, diversas de suas palavras, embaralhadas, saltaram para a realidade da mesma forma que as vi no meu primeiro mergulho ao Dark Place. Ao colocar a luz da lanterna contra a palavra “telefone”, esta desmaterializou-se e deu lugar para um celular que foi ao chão. O tomei e este tocou, era Zane. Estava cada vez mais difícil de conseguir contato com ele, mas afirmou que deixaria um sinal para que eu o seguisse, e que eu devia me guiar pelas palavras. Como um escritor, achava isso irônico.
Por que aqueles vídeos estavam tão maníacos? |
Após enfrentar uma série de Takens - alguns com faces conhecidas, como a de Carl Stucky - eu recebi outra ligação de Zane, dizendo que eu estava afundando ainda mais. Isso não fazia sentido, eu estava seguindo o sinal dele, como poderia estar indo para o caminho oposto? Bem, se Dark Place conseguia se moldar, poderia estar falsificando o caminho? Era uma possibilidade. Bem, tudo que eu podia fazer era continuar crendo que seguia a direção certa e enfrentar o que surgisse com a minha lanterna.
Eu temia que chegasse um ponto que eu não poderia mais atravessar a cidade. |
Novos televisores surgiam a todo momento, mostrando minha face distorcida bradando descrições que não podiam ser descritas de outra forma se não como profecias da minha ruína. Eu não entendia o que aquilo representava, se era outra peça pregada pelo ambiente malévolo no qual me encontrava ou se realmente eu estava enlouquecendo - como achei que havia acontecido quando me vi na cabana escrevendo Departure. Infelizmente, não tinha muito tempo para filosofar. Avancei, adentrando uma igreja e saindo pelos fundos, ficando diante de um cenário inesperado.
"Blast." Bom nome. |
Após sair daquele campo minado, encontrei uma solitária página no chão. Ao tocá-la, palavras surgiram ao meu redor, formando diversos objetos, como uma imagem minha, ou ações, como um grito de desespero. Uma das palavras, contudo, me chamou a atenção. “Amigo”. Hesitei e ergui a arma junto da lanterna antes de focar a luz, pois eu só podia esperar o pior daquele território perigoso e traiçoeiro. Foi por esse motivo que abaixei a arma atônito quando as letras se dissolveram e deram lugar para a imagem de Barry Wheeler, meu melhor amigo e agente.
Era bom ver uma face amiga. |
O Barry Imaginário começou a agir como um fantasma no meu ombro, surgindo e me acompanhando enquanto eu tentava seguir o caminho indicado por Zane. Ele concordava que era a melhor ideia, já que Thomas está aqui há tanto tempo que deve ter se tornado um com o lugar. O sinal apontava para uma estrutura à distância, local este que Barry afirmou ser um moinho, mesmo sendo impossível ver dali. Questionei como ele podia saber disso, e ele respondeu que não sabia nada que eu não sabia, ou que o local se tornou o moinho porque ele disse isso, e agora eu não iria conseguir tirar isso da cabeça. Eu não devia ter perguntado, agora minha cabeça doía ainda mais.
"Whoo! Ei, Al? Me parece que a caneta é mais forte que a--" Se você completar essa frase, está demitido. |
Episódio 7: O Sinal (Parte 3/3)
"...Mais forte que a espada." Está demitido. |
Até agora fui atacado pelas minhas obras de forma figurativa, mas chegou ao ponto em que isso se tornou literal. Ao invés dos famigerados corvos que me perseguiam, meus livros surgiam voando e avançavam em mim, forçando suas capas contra o meu corpo e me atacando numa poética maneira de mostrar que, mais do que nunca, minha criação era minha criatura, e que estava tentando me consumir. Felizmente, o método de combate ainda é o mesmo, e a luz queimaria cada um deles, página por página. Eu nunca vi um livro meu e tive vontade de queimá-lo, até hoje.
...Certo, isso estava ficando absurdo. |
Acredito nunca ter passado tanta pressão diante das crias da escuridão como agora. Não uma nem duas vezes eu senti as facas e machados passando tão perto do meu corpo, abrindo cortes em minha roupa. Antes na roupa do que no corpo. Saí daquela zona mortal e fiquei diante de um armazém, trancado por uma trava elétrica. Quando direcionei a luz para a palavra “rodas”, um carro surgiu e pude usá-lo para ir até a central de energia daquela área, mas não esperava que isso também invocaria uma série de caminhões-monstro me perseguindo.
Pegarei fobia de dirigir depois disso. |
Do outro lado do território, a palavra “memória” engatilhou lembranças de Alice, assim como sua voz. Por um minuto, senti meu mundo tremer. Eu consegui salvar minha esposa no final de Departure, mas claramente algo deu errado. Será que ela está bem? Faz quanto tempo que ela se libertou? Dias? Semanas? Meses? O tempo parecia correr de maneira diferente naquela terra. A relatividade era minha inimiga, e a falta de um calendário era outra.
Era bom ver Alice, mesmo que fosse apenas uma memória. |
Claro, não era a minha casa de verdade, e sim uma materialização dela em Dark Place, fruto da minha imaginação. Eu não encontrava esse local desde que vim atrás da Presença Negra. Assim como da última vez, encontrei Zane, me recebendo com sua luz. Ele apontou para a televisão e um novo vídeo de mim, distorcido, insano, e disse que era contra isso que eu estava lutando: eu mesmo. Segundo Thomas, eu estava preso em meus próprios pesadelos, e precisava vencê-los se quisesse emergir da minha loucura. Eu não queria acreditar nisso, e esse mero pensamento deu força para a escuridão expulsar Zane dali. Eu estava novamente sozinho, e a escuridão se aproveitou disso, erguendo do chão os móveis e eletrodomésticos da casa, transformando meu próprio ninho em uma armadilha mortal.
Quando dizem que "a culpa é da televisão", não creio que tenham pensado nisso. |
Do lado de fora, a escuridão colocou toda sua força num ataque final, jogando um barco contra mim e invocando meus livros para me atacar. Felizmente eu ainda tinha bateria o suficiente para focar toda a luz possível naquela ameaça, extinguindo ambos inimigos do mar e dos céus. A televisão me exibia em pânico, sofrendo, antes da tela se partir e ir ao chão. Ainda quebrada, meu grito ecoou e pareceu atravessar meus tímpanos e perfurar meu cérebro, me jogando no chão inerte. Eu não conseguia reagir, era uma dor que eu não conseguia conceber. Eu achei que fosse ficar surdo.
Não, esse sorriso maníaco de novo não... |
Era o que eu pensava enquanto meu corpo estava jogado no chão da cabana de Cauldron Lake, cercado de páginas, catatônico. Preso. Sepultado por meus próprios pensamentos, selado por minha própria imaginação. O pior pesadelo de um escritor de terror.
Isso conclui o primeiro DLC de Alan Wake, expandindo um pouco mais a trama do jogo. Peço perdão pelo atraso para subir essa parte, aconteceram alguns imprevistos. Infelizmente, o caminho de Alan está chegando ao fim e a próxima parte será a última parada dessa aventura. Será que Wake enfim encontrará a fórmula da sobrevivência de Zane, ou sofrerá o mesmo destino daqueles que foram tomados pela escuridão? Descubram comigo neste domingo, na última etapa do nosso Blast Log!
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Wellington Aciole
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