Quando foi lançado o jogo de ficção científica de tiro em terceira pessoa
Quantum Break (XBO/PC), da
Remedy, a principal novidade do título AAA foi a inclusão de uma série em
live action em conjunto com o
gameplay. E unido ao inédito conteúdo audiovisual com elenco real, a produtora finlandesa também estreou sua nova
engine, a Northlight, inaugurando uma experiência lúdica entre videogame e cinema.
Evoluindo das origens
A Remedy é conhecida no cenário de jogos eletrônicos por seus jogos de narrativa e estética cinematográficas. Criadores do famoso efeito
bullet time nos games através do jogo policial de tiro em terceira pessoa
Max Payne (Multi), de 2001. Apesar do termo
bullet time ser marca registrada da produtora cinematográfica
Warner Bros. para o filme de ficção científica
Matrix (Wachowski Brothers, 1999), a desenvolvedora finlandesa foi a responsável por levar a técnica ao mundo dos games.
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A icônica cena de Keanu Reeves como Neo em Matrix foi a inspiração para o efeito bullet time da Remedy. |
A trágica história do detetive do Departamento de Polícia de Nova York também foi pioneira em um dos recursos mais usados pela Remedy em seus jogos: séries com elenco real que servem como narrativas embutidas da história principal. O romance histórico da Era Vitoriana
Lords and Ladies e o
noir Address Unknown foram as primeiras séries da Remedy e, em suas estreias em Max Payne, contaram com apenas um episódio.
O sucesso da iniciativa com episódios pilotos rendeu mais seis capítulos sobre a história de amor entre o Lord Valentine e Lady Amelia, bem como da caçada do atormentado John ao
serial killer John Mirra, ambos presentes em
Max Payne 2: The Fall of Max Payne (Multi), de 2003. Na época, as séries eram transmitidas com imagens estáticas e quadro a quadro, diferente do que viria ser a trama de terror psicológico
Night Springs em
Alan Wake (XBO/PC), de 2010.
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Cena estática de Address Unknown. |
Série ao estilo Hollywood
A série de quatro episódios dinâmicos em
live action e com elenco hollywoodiano de Quantum Break é resultado direto da evolução gráfica e narrativa da Remedy ao longo dos anos. Depois do grande êxito de Night Springs, que até mesmo gerou o
spin-off Alan Wake's American Nightmare (XBO/PC) em 2012, ambientado no universo da série sobrenatural,
Quantum Break, série que leva o mesmo nome do jogo, sempre esteve nos planos da produtora finlandesa.
O desafio de Quantum Break estava em como atrelar a série ao
gameplay. Então o design de narrativa do título foi estruturado de forma que o jogo dialogasse diretamente com os eventos da série. Diferentemente das outras produções televisivas da Remedy, que serviam à custo de complemento ou curiosidade para o jogador, Quantum Break é parte vital da narrativa e sofre mudanças e consequências tal como nas escolhas oferecidas durante o
gameplay da trama de narrativa emergente.
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O ator estadunidense Lance Reddick, de John Wick (Chad Stahelski, 2014) integra o elenco de estrelas de Quantum Break. |
Além de representar um novo passo na indústria, a série de Quantum Break representa uma nova perspectiva do futuro dos jogos da Remedy. Anteriormente centrada em títulos cujo protagonista era o centro da história, em Quantum Break a produtora finlandesa divide o protagonismo do jogo entre os melhores amigos Jack Joyce e Paul Serene. Neste cenário, a série em
live action serve como o olhar do antagonista Paul Serene sobre os eventos da trama.
Northlight e o fotorrealismo
Ao integrar série e
gameplay, Quantum Break vai além dos padrões da indústria de jogos, pois ele não é um
Full Motion Video (FMV) e também não é um filme interativo. Quantum Break é um híbrido entre cinema e videogame que congrega gráficos com tecnologia de captura facial em 4D, filtros de luminosidade e física cinematográfica, efeitos sonoros personalizáveis e outros atributos técnicos da Northlight.
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Realismo cinemático da Northlight impressiona. |
A nova engine da Remedy foi criada exclusivamente para Quantum Break, fazendo dele o primeiro jogo da produtora a usar tal tecnologia. O diferencial da Northlight está nela quebrar a barreira do Uncanny Valley, teoria elaborada pelo roboticista japonês
Masahiro Mori de que quanto mais um robô ou inteligência artificial assemelha-se ao ser humano, mais as pessoas sentem afinidade com ele.
No cenário dos jogos eletrônicos, o termo Uncanny Valley também se refere a jogos cujos gráficos beiram o fotorrealismo, a arte de transportar uma imagem real com o máximo de fidelidade para o formato imagético ou digital. Em Quantum Break, as cinemáticas com os dublês digitais do elenco são estonteantes. A conexão visual entre
gameplay, cinemática e
live action é fluída e equilibrada, tornando os personagens perfeitamente reconhecíveis em suas três versões.
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O ator irlandês Aidan Gillen, de Game of Thrones (David Benioff, D.B. Weiss, 2011) e Maze Runner (Wes Ball, 2015), em suas três versões do jogo. |
Depois do
bullet time e das séries
live action ingame, a Remedy novamente deu um novo passo em direção ao futuro dos jogos eletrônicos: híbridos de videogame e cinema interativo cuja narrativa emergente responde a gráficos ultrarrealistas. O sucesso do resultado final em Quantum Break confirma a chegada do Uncanny Valley às futuras gerações de jogos eletrônicos.
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